Um dos casos mais interessantes que encontrei foi o de Woldyslack Nicolayewcht Zacarowiskini. Mais conhecido como Russo, ele mantem viva a tradição cuteleira de sua família através das Facas Burza.
Quando em Tiradentes, um ótimo programa é ir conhecer o Russo e suas facas (recomendo agendar a visita de antemão). Abaixo, sua história:
O Cuteleiro Russo em Tiradentes
Woldyslack Nicolayewcht Zacarowiskini nasceu num campo de prisioneiros na cidade de Tula, no Sul da Rússia. Ao desembarcar no Brasil em 1951, Woldyslack precisou logo de um apelido: “Russo”. Depois de algum tempo no Paraná, morou por 30 anos
Russo é parte da nona geração de sua família que produz facas de alta qualidade. A história das Facas Burza – palavra que significa tempestade na língua cossaca – é documentada desde 1692. Top de linha mundial, as facas são artesanalmente produzidas no ateliê de Russo, que tem como objetivo unir estética e utilidade ao instrumento.
As lâminas das facas Burza são feitas de aço especial e coladas com resina da classe GY, que a Nasa utiliza para reforçar seus tubos de alta pressão. O punho é feito de madeira de lei, geralmente jacarandá, chifres ou ossos de búfalo. As facas são desbastadas de um só lado para facilitar o fino fatiamento vêm acompanhadas de bainha em couro curtido e pedra de óxido de alumínio. Todas as peças são numeradas, e a garantia contra defeitos de fabricação é eterna.
“Realinhando o fio de corte”
Russo explica que facas de qualidade são raramente afiadas. A pedra de óxido de alumínio, um material não abrasivo, serve apenas para desviar o fio de corte. Ele conta que quando a faca é utilizada, acontece a dobra de micro-grãos de aço. A pedra serve para realinhar o fio de corte, voltando os micro-grãos a sua posição original. “Uma faca não deve jamais ser afiada
Para realinhar a faca na pedra de óxido de alumínio, Russo recomenda a compra de glicerina líquida numa farmácia, que deve ser colocada para ferver em fogo baixo. Quando alcançar fervura, deve-se desligar o fogo e mergulhar a pedra na glicerina, que irá penetrar pelos poros, ocasionando a oleosidade necessária. O processo, que deve ser feito apenas uma vez, permitirá que a pedra esteja sempre oleosa, não necessitando molhá-la nem à faca.
De geração em geração
Com as mãos entrelaçadas e apoiadas sobre a barriga, movimentando os dedos em círculos sem parar, zomba, contando por que decidiu casar com sua mulher. Ela lhe perguntou o que fazia, e quando ele respondeu ser faxineiro, ela não riu, nem reagiu com a piada. Tratou-o do mesmo jeito. Hoje a mulher e os filhos o ajudam nos negócios. “Eles aprenderam que o tempo de feitura de cada faca é o necessário. Aqui não existe tempo. Quando se mede o tempo, pode vir a pressa e aí a qualidade cai”. O importante para Russo é que a faca chegue pronta a seu cliente. E claro, que a tradição iniciada em 1692 siga adiante com seus filhos.
Facas Burza
Rua do Chafariz, 90 / Tel. (32) 3355-1561 / Tiradentes - MG.
A visita deve ser agendada previamente.
7 comentários:
Acabei de sair de uma visita ( agendada) a 'Facas Burza'. Eu e minha família estávamos super animados para conhecer essas peciosidades. Entretanto fomos extremamente mal tratatos por um senhor que, depois de 15 minutos nos constrangendo com sua postura de impaciência, nos convidou a 'comprar pela internet' - praticamente nos mandando embora.
Li aqui esse comentário sobre não gostarem de turistas e etc...Meu irmão estava ansiosíssimo para conhecer a fábrica e ganhar sua primeira faca (ele tem 19 anos e adora culinária). Desistimos da compra, ficamos desapontados e acho que essa postura arrogante do senhor que nos atendeu não se justifica. Enfim, se você não é um cheff de cozinha, um jornalista, ou alguém que tenha um título que demonstre que você 'vale a pena' para essa empresa, não perca seu tempo: compre pela internet. Te poupará o desprazer da visita. Aliás, se menosprezam o público que não pertence a uma elite de 'connoisseurs', era melhor tirarem a placa que fica na entrada, dizendo que agendam visitas. Lamentável. NÃO RECOMENDO.
Oi Fernanda,
Entendo perfeitamente suas palavras. Quando lá estive pela primeira vez, foi só com muito custo que consegui falar com o Russo. Realmente parece que ele é uma daquelas pessoas difícies que a gente precisa conquistar a confiança antes dele começar a falar. E depois, aí sim, passa a ser encantador e interresante. Mas primeiro é preciso passar essa primeira barreira. (desculpe a comparação, mas mais ou menos como aquelas garotas difíceis que a gente passa anos tentando conquistar, até que quando não dá mais bola, aí é ela que quer te conhecer).
Um abraço,
Rusty.
A quem interessar possa...
Conhecí o Russo um dia desses. Foi exatamente numa sexta-feira, 02 de setembro. Talvez pelo fato de tê-lo conhecido fora de seu ambiente de trabalho, não passei pelo constrangimento de ter que agendar uma entrevista comercial com ele. Sou músico, e ele adora percussão. Já deu para perceber que o nosso papo "deu liga". Conhecí uma pessoa adorável! Sua vitalidade esconde o peso de seus quase 70 anos, e isso deve ser muito bem considerado. Suas facas são o que existe de melhor no mundo inteiro, e as compras via internet são, realmente, a melhor forma de adquiri-las. Depois do advento da informática, ficou fácil ser dono de uma autêntica faca Burza. Quanto ao Russo, melhor deixá-lo à mercê de seus próprios talentos. Quem ganha, no final, somos nós.
Sergio A. Menezes
Juiz de Fora - MG
Sou cliente do Russo e depois que comprei minha primeira faca com ele ficou muito mais difícil optar por outra.
Não havia agendado visita pois resolvi visitar ao ver a placa na estrada. O Russo me recebeu com cara de poucos amigos e eu entendo, muitos curiosos devem visitálo somente para ver e o tempo dele é ocupado por visitas agendadas e o trabalho em si. Porém, depois de perceber minha paixão por facas ele se mostrou muito atencioso e me contou histórias que ficarao guardadas na minha memória, juntamente com as peças Burza que possuo.
Sou colecionador e fui "forçado" a comprar 2 facas do mesmo modelo em uma ocasião, fiquei deslumbrado com a qualidade do produto e não queria colocar para uso uma peça especial da coleção, acabei comprando duas iguais e estou muito satisfeito.
Deu azar!
Não comprei nada e batemos um longo papo! Inclusive sobre o problema do Brasil ser a permissividade.
Experimentei espadas, arcos...foi fantastico!
MAM
Gostaria de parabenizar o pequenino russo pelo magnifico trabalho em sua arte cuteleira, só gostaria de lembrar que a loja hoje situa-se no residencial parque dos bandeirantes em Tiradentes - MG. A vila russa construida nos mesmos moldes da época é de cair o queixo, recomendo a visita
Hoje tivemos o prazer de conhecer o Russo, uma pessoa sensacional e um artista da cutelaria, alem de ser um gênio da metalurgia. Com suas historias, o Russo consegue nos entreter e o tempo para, a propriedade e algo surreal com uma arquitetura pouco convencional e uma decoração que nos remete a idade media com espadas, lanças, punhais e moveis macicos. Vale a pena conferir, mas lembre-se curiosos não sao bem vindos, mas pessoas interessadas e com conhecimento sao tratadas com uma cortesia e atenção excepcionais.
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