Dia 02 – terça-feira, 06 de março de 2012
De madrugada, acordo com o bip de várias mensagens de texto chegando ao meu celular. É a TIM indicando que entramos em território marítimo internacional, que possui cobertura de celular da empresa.
De manhã, acordo por causa de uma tremedeira que balança a cama. Pressuponho que seja a âncora descendo, pois estamos justamente sobre esta, bem na última cabine da popa do navio (a parte de trás). Ou então é o motor ligado em reverso, que é usado quando se quer parar um navio. Segundos depois a tremedeira cessa.
Abro a cortina e percebo que o navio está parado. É engraçado dizer isto, mas há momentos em alto mar que podemos pensar que o navio está parado outros em que o navio está no porto que pensamos que está navegando.
Pela varanda da cabine, admiro Ilhabela.
Sinto que o ar condicionado do quarto está fraco. Pela manhã, chamo um funcionário para dar uma olhada no problema. Como todo o ar condicionado do navio é central, ao invés de ser controlado individualmente por cada passageiro em sua cabine, o técnico abre uma “caixa” embutida no teto para aumentar o diâmetro de saída de ar e, consequentemente, aumentar sua força.
Sigo para o café da manhã, que vai somente até as 09h15 no restaurante Esmeralda, no 3º andar. Depois disso, o café é servido somente em “estilo bandejão” no Bellagio. Há um cardápio sobre a mesa oferendo waffles, panquecas americanas com xarope de maple, omelete, ovos mexidos com bacon, e outras coisas mais. Peço torradas com salmão defumado, cream cheese e ovos pochê. Mas enquanto espero o pedido chegar à mesa, vou ao bufê do restaurante, onde há frutas como mamão, melão, melancia e toranja (grapefruit), iogurtes, sucos, bircher musli (uma espécie de salada de frutas com castanhas e iogurte que é uma delícia!), pães, croissants, mortadela, salaminho (lembro que a bandeira do navio é italiana), queijos, doce de leite (lembro que a maioria dos passageiros são argentinos, que adoram doce de leite no café da manhã), etc.
Leio no informativo que um funcionário irá circular pelos decks das cabines pela manhã para limpá-los. Estava no quarto quando isto aconteceu. O funcionário pulava de um deck para outro, sem pedir licença, com uma mangueira de alta pressão na mão. A circular pedia a todos os passageiros que deixassem suas cortinas fechadas para que o funcionário não visse algo mais “íntimo” acontecendo dentro da cabine. Imagino que muita gente que não dever ter lido o informativo e, portanto, levado um tremendo susto ao avistar o indonésio na sua varanda jogando água no seu deck e na sua janela. Também penso que muita gente deve ter sido vista pelada ou em roupas íntimas pelo funcionário.
O navio ficaria em Ilhabela de 8h às 14h. Por isso, Lorena e eu decidimos dar uma volta no vilarejo logo depois do café da manhã.
O Costa Mágica ficou em Ilhabela entre 8h e 14h
É esta a embarcação de emergência do navio.
É nela que vamos até o continente quando não há porto.
O navio visto de dentro da embarcação que leva
os passageiros até o continente
O capitão da embarcação que faz
o trajeto entre o navio e Ilhabela
Em Ilhabela, passeio pelo vilarejo em busca de uma lembrança de agradecimento para o Thomas, o maitre que nos conseguiu trocar o nosso turno do jantar. Em uma pequena mercearia (os preços de Ilhabela são bem caros), encontro uma latinha de manteiga Aviação. Compro-a para presenteá-lo.
Passo um bom tempo tirando fotos do pequeno centro de Ilhabela.
Centrinho de Ilhabela
Carrinho de pipoca e batata chips
Loja de fliperama
O Costa Mágica visto do continente
Igreja matriz da ilha. Haja fios e postes.
Um dos meus cafés favoritos em todo o Brasil está em Ilhabela. Sempre que a visito, vou ao Free Port Café tirar fotos e comer uma fatia de bolo com espresso. A ambientação mistura madeira e ferros cromados. Maravilhoso! Além disso, o lugar se tornou conhecido por causa das lindas funcionárias que usam uniformes de marinheiras Mas cuidado: por serem muito bonitas, elas tem o nariz em pé e muita personalidade, podendo-o tratar com desdém. Lorena escutou uma das garçonetes dizendo a outra que: “avisa aquele ser (leia-se eu) que eu não quero aparecer em nenhuma das fotos dele”.
Parei de fotografar e fui pedir uma fatia de brownie com espresso (infelizmente, o bolo foi aquecido no micro-ondas e coberto com calda de chocolate, estragando-o). Apesar das tortas e dos bolos serem apenas gostosos, a beleza do ambiente (e das garçonetes) vale cada centavo ali pago.
Free Port Café, um dos mais charmosos do Brasil
O ambiente do Free Port
Muita madeira e ferro cromado
Vitrine com bolos e tortas
Torta de maçã; na verdade, várias camadas de panquecas
com recheio de maçã
Percebo que os argentinos que estão no navio adoram chimarrão. Muitos deles andam pra lá e pra cá com sua cuia e garrafa térmica debaixo do braço. Minha ignorância me fez julgar que isto era uma mania exclusiva dos gaúchos. E olha que o dia estava um calor africano.
Retorno para o navio por volta das 13h a tempo de conseguir almoçar no restaurante a la carte.
Sempre que sento no restaurante de um navio (esta é a minha segunda viagem pela Costa Cruzeiros. Na primeira, embarquei no Costa Serena), não deixo de me impressionar com a eficiência do serviço. É incrível como conseguem servir milhares de pessoas ao mesmo tempo em questão de minutos. E ainda com menu degustação! Fiz um cálculo rápido e percebi que no jantar saem quase 20 mil pratos em poucas horas, pois são cerca de 4 mil passageiros que pedem 4 ou 5 pratos cada um.
Cardápio do almoço
Entrada - merluza com erva doce crocante e toranja;
A sopa foi dispensada;
Massa – paella com frango e legumes;
Prato principal – filé de peixe com legumes no vapor
Antes da sobremesa, pedi o prato de queijos (é muito bom este costume italiano)
Sobremesa – torta Florence com baunilha e rum
Penso: como será a lista de fornecedores de um navio? Como será a negociação? E o encarregado de compras? Será que é uma equipe imensa? Quando e onde cada alimento é entregue a bordo? Será que quase tudo é congelado? Ou tem muita coisa fresca como frutas e legumes? Adoraria descobrir como funciona os bastidores de um navio
Depois do almoço, hora de cochilar.
Muitos me perguntam se o navio balança bastante em alto mar. A resposta é que somente em um único momento em todos os dias em que estive em um cruzeiro (7 dias somando as duas viagens que fiz) fiquei enjoado. Isto aconteceu quando fiquei olhando o mar passar pela janela de um dos restaurantes (como se eu estivesse em busca de algum náufrago em alto mar) Daí, voltei para a cabine, tomei um remédio (Meclin) e deitei. Minutos depois estava cem por cento.
O navio possui um restaurante “diferenciado” que oferece um cardápio, digamos, mais “requintado” que os demais. Chama Club Vicenza e custa U$ 33,50 adicionais por pessoas (todos os custos dos demais restaurantes estão inclusos no preço da passagem, com exceção das bebidas e do serviço sobre estas). Para variar um pouco o ambiente do jantar, Lorena e eu reservamos uma mesa no Club Vicenza para as 21h (é preciso fazer reserva na recepção do navio).
Por volta das 16h30 subo para a piscina central do navio, que é a do “agito”. Sou bombardeado por músicas de Michel Teló, Axé, Sertanejo, e até Xuxa. Canso daquilo ali e vou para uma parte mais sossegada na frente do navio terminar o livro Sangue, Ossos e Manteiga.
O sol se põe com o navio em alto-mar sem sinal algum de terra. A próxima parada será em Punta del Este no Uruguai às 8h de quinta-feira, dois dias depois.
Hora de cozinhar na jacuzzi antes de seguir para a sala de ginástica. Lá, cozinho mais um bocado na sauna a vapor e depois novamente na jacuzzi, desta vez na que fica na academia.
À noite, antes de jantar, é hora de ir para o teatro. O show é de malabarismo. Casais fazem piruetas e se dependuram em diversas posições em uma corda esticada do teto ao chão do palco.
O jantar no Club Vicenza é interessantíssimo e bem divertido por ser tão kitsch. Garçons e garçonetes usam gravata borboleta. O vinho é aberto e transferido para um decanter. Depois, a prova é feita em uma taça diferente à que está sobre a mesa (pois, caso esteja avinagrado, a taça “oficial” da mesa não precisa ser trocada). Os pratos chegam em cima de carrinhos empurrados desde a cozinha e debaixo de um cloche (aqueles abafadores que tampam a comida para que esta seja somente revelada diante do comensal). De entrada, lagostins e camarões. Prato principal, linguado com caviar. Sobremesa, tiramisu (que estava bem fraquinho).
O cardápio do Club Vicenza
Após o jantar, Lorena e eu vamos passear pelas lojas do navio. Percebo que horas antes um vendaval de senhoras argentinas famintas por compras havia passado pelo local. Havia prateleiras quase vazias e funcionários repunham os itens para o dia seguinte. No navio há uma loja Duty Free, que é aberta somente quando o navio está em alto-mar, em território internacional. Este é o lugar favorito de muita gente no navio.
Apesar de adorar tomar um espresso após um belo de um jantar, prefiro dispensá-lo nesta noite para que nenhuma gota de cafeína me atrapalhe o sono.
Um comentário:
Adorei fazer a leitura da viagem. Beijos pra vc e Lorena. Rosana
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