20.1.12

Emma e Dexter

“Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável.”

                                                              Charles Dickens, em Grandes Esperanças





       Vinte anos.
           Duas Pessoas.
Um Dia.


São raros os livros que me emocionam. Aliás, quando escolho um livro raramente o faço em busca de emoção. Gosto de ler por ter curiosidade sobre determinado assunto. Para mim, o prazer da leitura é paralelo à busca do conhecimento.

Dito isso, afirmo que fui surpreendido com Um Dia, de David Nicholls (Ed. Intrínseca), pois fiquei emocionado em vários trechos do livro.

A obra narra os acontecimentos da vida de Emma e Dexter em um único – 15 de julho - ao longo de 20 anos. Cada capítulo corresponde a um ano. O primeiro se passa em 1988, quando os dois se conheceram. O livro tem início com Emma e Dexter na cama no dia seguinte da formatura. O casal conversa sobre seus sonhos e como se enxergam dali a alguns anos (cena que poderia facilmente cair no clichê, mas Nicholls soube como não cair nesta armadilha).

Os anos se passam e a vida começa a pregar suas peças, levando os protagonistas para um lado, depois para outro. Logo, percebe-se que os nossos sonhos quando jovens raramente se assemelham à realidade. O jornalista inglês Tony Parsons escreve que o livro é “sobre o assombroso hiato entre o que éramos e o somos”. 

Além dos protagonista, Nicholls cria ótimos personagens secundários. Estes são aquelas pessoas que passaram pela nossa vida e que, provavelmente, nunca mais iremos vê-las. Porem, são pessoas que guardamos com carinho. São pessoas que foram importantes em determinadas época de nossa vida, que nos ajudaram a moldar a nossa personalidade e nos tocaram na maneira de encaram o mundo.

Com o passar dos anos (ou dos capítulos), através de Emma e Dexter, notamos que a vida sempre terá  surpresas. Altos e baixos. Dias de tristeza e dias de alegria. Momentos de encontros e de desencontros. E não tem jeito: o amadurecimento só virá com o tempo. 

A história de Emma e Dexter me fez relembrar alguns dos dias mais significativos de nossa vida: como a noite em que conheci minha esposa; a tarde em que embarquei aos 17 anos, sozinho, para ir morar no Canadá por um ano; os dias felizes das viagens de pesquisa dos livros Caminhos do Sabor; os aniversários com os amigos, os Natais em família.

Outro aspecto interessante de Um Dia é a importância do "timing" que acontece determinado evento. Se este mesmo acontecimento ocorresse um ano antes ou, sei lá, meses depois, será que ele teria o mesmo impacto em nossa vida? Por que será que aquele acontecimento aconteceu justamente naquela hora? É nestes "momentos-chave" da vida que temos que tomar decisões que irão traçar nosso perfil, construir nossa história. Porém, será somente no futuro (algo entre alguns dias e muitas décadas depois) que saberemos se tal decisão foi certa ou errada. Daí, nada poderá ser feito; a não ser arcar com a própria responsabilidade.

Um Dia foi adaptado para o cinema, mas não pense que assistir ao filme será semelhante ao ler o livro. O livro eu recomendo, o filme não. E se você não é um leitor usual, talvez Um Dia seja o livro que possa lhe despertar o interesse para o prazeroso mundo das letras.

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