25.9.10

Coluna Gastrô - Jornal O Tempo - 10.09.2010

Impressões de um fim de semana em Tiradentes

Na coluna anterior, comentei os festins que participei como convidado da organização do XIII Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes. Nesta semana, gostaria de abordar outras impressões sobre Tiradentes, tanto em relação aos restaurantes da cidade quanto ao festival em si.


É louvável a grade que existe dentro na programação dedicada aos cursos e palestras gratuitas. Se os festins, devido ao alto preço, são para poucos privilegiados, as aulas podem ser assistidas por todos que visitam a cidade durante o festival. Em um amplo espaço no “Mercado da Cultura e Gastronomia”, montado ao lado da rodoviária, os chefs responsáveis pelos festins mostram ao público algumas de suas receitas com direito a degustação. As demais aulas também costumam ser bem interessantes como, por exemplo, a que abordou os diferentes aspectos existentes na “Água Mineral” e a que ensinou “Como degustar um café de qualidade”.


Talvez pudesse haver um número maior de mesas-redondas para debater, entre outros temas, a gastronomia brasileira. Neste ano, houve apenas uma, com a participação de Josimar Melo, Nina Horta e Danúsia Bárbara, no primeiro sábado do festival. Além de mapear o que está acontecendo no país, tais mesas-redondas poderiam também estabelecer um diálogo com o público através de perguntas e respostas.


Entendo a importância da presença de chefs de restaurantes europeus estrelados no guia Michelin. Mas acredito que a organização poderia equilibrar o número de chefs estrangeiros e brasileiros. Por que não valorizar os chefs dos quatro cantos do Brasil que vem fazendo um trabalho excepcional? Além disso, existe uma riqueza tão grande de produtos nacionais, muitos destes desconhecidos por vários brasileiros, que poderiam ser usados nos festins, como baru, cruá, quitoco, canistel, sapucaia, cambuci, palmito brejaúba, etc. E se o leitor pensa que estou me referindo a produtos de terras longínquas, saiba que todos estes são oriundos de Minas Gerais.


Outro destaque do festival é a “Comida na Praça”, que consiste no preparo de uma receita em pleno Largo das Forras por chefs convidados pela organização. Nesta edição, Janaína Rueda, do Bar Dona Onça de São Paulo, fez uma sopa de cebola, e Dona Nelsa Trombino, do Xapuri, ensinou sua famosa farofa de jiló com carne seca. Tudo delicioso! Mas senti que Dona Nelsa merecia mais atenção (ou carinho?) da organização, pois a simpática senhora cozinhou em um espaço improvisado ao lado do “Botequim Oficial” suando em bicas sob o sol intenso de uma hora da tarde.


A sempre sorridente Dona Nelsa Trombino,
do restaurante Xapuri.


Sobre o município


Durante a estadia em Tiradentes, tive a oportunidade de almoçar em três restaurantes de comida mineira: Estalagem do Sabor, Viradas do Largo, e Dona Xepa. Em todos o atendimento foi bastante precário. Para conseguir a atenção dos garçons, só mesmo imitando aqueles bonecos de vento que existem na porta de concessionárias e ficam balançando os braços sem parar. Em relação ao tempo de espera dos pratos, é preciso ter muita, mas muita paciência. Recomendo levar um jogo de baralhos para se entreter durante a hora, ou mais, que o pedido levará até chegar à mesa. Sobre o sabor dos pratos, neste quesito fui feliz em todos. Mas, em um retorno a cidade, daria predileção ao Estalagem do Sabor.


Caminhando pelas ruas de paralelepípedos, tive a curiosidade de entrar em alguns restaurantes para averiguar os cardápios. Fiquei surpreso com o alto preço cobrado pela maioria. Alguns restaurantes são bem mais caros que os melhores de Belo Horizonte. Porém, a qualidade de serviço, ou até mesmo a dos pratos, fica muito a desejar. Ainda sobre os cifrões, é um absurdo o valor que as pousadas cobram durante o festival. Conversei com três recepcionistas e todos disseram que a diária em “dias normais” é a metade do preço dos “dias de festival”.



A bucólica Tiradentes, MG



Finalmente, ressalto que parece ser cada vez pior as condições do rio/esgoto que corta a cidade. Este ano o fedor estava insuportável. Também destaco a imundice ao longo dos trilhos da maria-fumaça e a ausência de lixeiras nas ruas. Está passando da hora do setor público resolver de uma vez por todas estes sérios problemas que prejudicam a imagem que os turistas levam da cidade.


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