20.7.10

O diário de produção de O Mineiro e o Queijo

(Reproduzo abaixo o texto que publiquei previamente em cinco partes na minha coluna semanal do jornal O Tempo).




No mês de abril, entre os dias 14 e 28, trabalhei como 1º. Assistente de Direção na produção “O Mineiro e o Queijo”, dirigido por Helvécio Ratton. O filme, um documentário em longa-metragem, irá abordar as dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores de queijo minas artesanal. Enquanto em Minas Gerais, o queijo feito com leite cru e certificado pelo IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária – pode ser comercializado legalmente, no restante do país sua venda é proibida por não apresentar o S.I.F. – Serviço de Inspeção Federal -, uma demanda do Ministério da Agricultura.


Ao longo das duas semanas de produção, a equipe percorreu diversas cidades nas três regiões queijeiras de Minas Gerais reconhecidas no dossiê de tombamento do IPHAN (Serro, Canastra, e Cerrado), além de gravar depoimentos em Belo Horizonte e em Viçosa. Neste período, escrevi um diário pessoal bastante informal focado, principalmente, na gastronomia de cada local visitado. Abaixo, reproduzo a primeira parte.



Dia 01 – quarta-feira, 14 de abril de 2010.


9h26min: Os integrantes da equipe se apresentam um ao outro enquanto esperam pelo diretor Helvécio Ratton diante seu edifício. As duas Mitsubishis F200 parecem não ser suficiente para carregar todo o equipamento de gravação e as muitas malas das sete pessoas ali presentes. Porém, um veículo extra é logo descartado.


10h32min: Os motoristas Carlos Paulino, Diretor de Produção, e Gilberto Otero, Diretor de Fotografia e Câmera, acessam a MG-050 em direção a Passos. Nela iremos até Piumhi e, de lá, até São Roque de Minas, localizada no sopé da Serra da Canastra.


10h46min: Vejo passar pela janela do carro uma de minhas paradas favoritas de estrada, a Formiga Doceira, que fica em Mateus Leme. Ali, há um divino pastel de frango com Catupiry®, mingau de milho verde, e doces caseiros em compota.


12h44min: Oba! Chegou a parada para o almoço. O local escolhido chama-se Cachoeiro e fica pouco depois de Divinópolis. Sobre o fogão à lenha, há jiló, quiabo, lingüiça, frango ao molho pardo, ovo frito, arroz, angu e tutu. Comida simples e honesta. Para beber, pedimos uma jarra de suco de maracujá explicitando “sem açúcar”. Mas não adianta: como é comum no interior, a bebida vem adoçado e idem para o café servido em copo lagoinha após a refeição. De sobremesa, provamos nosso primeiro queijo da viagem: um queijo frescal com doce de leite em pedaços.


15h27min: No caminho entre Piumhi e São Roque de Minas, passamos por cafezais de se perder de vista.


15h31min: O imponente paredão da Serra da Canastra é finalmente avistado.


16h02min: Chegada a São Roque de Minas. Diante a prefeitura encontramos A.P., atravessador de queijos e a pessoa que irá nos auxiliar durante a estadia na cidade. Ele nos leva à fazenda onde está nosso primeiro depoente: o produtor de queijo artesanal Zé Mario.


18h04min: Após gravar o depoimento de Zé Mário e sua esposa Valdete, em uma janela que dá vistas à sala de maturação de queijos do casal, saboreamos o nosso primeiro queijo minas artesanal: um legítimo Canastra maturado certificado pelo IMA. Junto dele, tomamos café já adoçado.


18h57min: Chegada ao hotel Chapadão da Canastra, que oferece boa estrutura ao turista, com internet wi-fi e televisão com canais abertos via satélite. Ou seja, apesar de estarmos em Minas Gerais, a programação da Rede Globo (leia-se “futebol”) é a de São Paulo. Agradeço que o quarto possui um abajur ao lado da cama, pois assim não precisarei tirar o que eu trouxe de dentro da mala.


19h22min: Por não suportar ambiente com luz fluorescente, tenho a mania de andar com lâmpadas incandescentes dentro da mala. Assim, caso necessite, posso trocar as lâmpadas do quarto de hotel pelas minhas para ter uma luz mais agradável.


20h17min: A equipe se encontra para jantar no restaurante Zagaia, que fica perto do hotel. A TV mostra o jogo Internacional x Emelec. Para beliscar, pedimos uma porção de mandioca frita, que chega à mesa como se deve: crocante e sequinha por fora e macia por dentro. Como prato principal, alguns pedem filé à parmigiana e outros frango à milanesa. De sobremesa, já de volta ao hotel, recorro ao Toblerone preto (meio-amargo) que trouxe comigo de BH.



Dia 02 – quinta-feira, 15 de abril de 2010.


06h02min: Acordo bem antes do despertador tocar, marcado para as 06h30min. O café da manhã oferece mamão e melão, café sem açúcar (ufa!), pão francês típico do interior (sem casca estaladiça e dourada), pão de queijo e margarina no lugar de manteiga.


07h59min: Chegada à fazenda onde será gravado o depoimento de outro produtor de queijo artesanal. Este, porém, sem o certificado do IMA.


F200 com a Serra da Canastra ao fundo



Helvécio, Joãozinho e Gil na queijaria do segundo.


12h40min: Almoço no restaurante Zagaia. Desta vez, todos pedem PF e escolhem o tipo de carne: boi, porco ou frango. Como guarnição, arroz, feijão, fritas, farofa, macarrão, ovo frito, e salada de alface e tomate.


13h37min: Carlos Paulino, ou simplesmente Carlinhos, comunica que Marcinho, Assistente de Câmera, irá precisar de uma meia hora para descarregar os cartões (onde ficam armazenadas as imagens da câmera HD) no lepitópi. Assim, a saída para o próximo destino fica programada para as 14h20min. Que ótimo! Pois poderei cochilar por vinte minutos no hotel que fica perto do restaurante.


15h32min: Em uma fazenda em local deslumbrante, com alta altitude e cercada por muros de pedras centenários, gravamos a imagem de uma belíssima banca de madeira onde ainda é feito o queijo como antigamente.


Gil fazendo um close de uma vaca.



16h41min: Ao cair da tarde, a equipe faz imagens do entorno da fazenda, com o horizonte a se perder de vista.


Ze Pao e Romilda na porta de casa.



17h07min: O casal Zé Pão e Romilda, produtores de queijo, nos convida para comer queijo e tomar café em sua cozinha pra lá de fotogênica: toucinho defumando sobre o fogão à lenha, chão de terra batida, e forno de barro usado para fazer quitandas. Minutos depois, Romilda nos presenteia com um momento inesquecível. Ela abre um fogão capengando de velho e tira de dentro um pão de queijo imenso e dourado que é, sem dúvida, o melhor que já provei em minha vida.


Na cozinha de Zé Pao e Romilda.



19h33min: Para variar, a refeição foi novamente no Zagaia. Desta vez, aqueles que comeram o filé à parmigiana na noite anterior pedem o frango à milanesa. E vice-versa. Eu, junto com o Gilberto, ou Gil, peço a pizza de tomates que, por incrível que pareça, tinha até manjericão. Esta, com uns fiozinhos extras de azeite (na verdade, óleo de soja misturado com azeite), até que desceu macia.



Dia 03 – sexta-feira, 16 de abril de 2010.


05h14min: Novamente acordei bem antes de tocar o despertador. Desta vez, marcado para as 05h45min.


06h02min: Café da manhã tomado rapidamente, pois ainda precisava fechar a mala e colocar no carro antes da hora marcada para a saída do hotel, às 06h30min.


06h58min: Chegada à fazenda de Zé Mário para gravar a ordenha e, depois, sua esposa Valdete fazendo o queijo.


09h34min: Em direção à cachoeira Casca D’Anta, a F200 passa ao lado de uma cerca de arame farpado com uma cobra morta dependurada.


11h50min: Avistamos a cachoeira Casca D’Anta, o principal postal da Serra da Canastra. Uma nuvem encobre o sol. Esperamos um tempo até a iluminação melhorar para gravar as imagens.


A cachoeira Casca D'Anta



12h53min: O almoço é no restaurante e pousada São Francisco, em Vargem Bonita. As mesas ficam espalhadas pela sala de estar e pela garagem da casa. Os pratos são servidos diretamente do fogão. No cardápio, deliciosas almôndegas de carne e pedaços de porco preparados na banha. Para acompanhar, ovo frito, farofa com carne desfiada, arroz, feijão, e folhas de alface. Peço um limão para temperar a salada e a dona da casa vai até o pomar e apanha um limão capeta.


14h33min: Helvécio, Gil, Marcinho e eu percorremos a praça principal de São Roque de Minas para gravar imagens da rotina de seus moradores. A que melhor ilustra o sossego do município é uma roda de pessoas jogando truco.


17h02min: A F200 segue por estrada de terra levantando muita poeira com destino a Bambuí. A quantidade de poeira é tamanha que faz lembrar um forte nevoeiro. Há instantes em que não se enxerga a estrada.


18h35min: Chegada ao Hotel Silveiras, em Bambuí. Com estrutura mais precária que o hotel anterior, o banho é em chuveiro com água que sai a conta-gotas. A cortina fina do meu quarto, que dá para a rua, mal esvaece a luz dos postes públicos.


19h02min: Em cochilo pré-jantar, acordo com o som alto de um carro de boyzinho que passa diante o hotel.


20h02min: Jantar no restaurante Galpão. Eu e Gil pedimos um filé a parmigiana com purê de batata para dois. Helvécio, que havia pedido um espaguete com alho e óleo, é obrigado a devolver seu prato por ter sido servido gelado. Em troca, pede uma omelete de queijo.


21h14min: No caminho de volta ao hotel, Gil e eu tentamos encontrar algum chocolate meio-amargo nas lanchonetes da cidade, pois meu toblerone já havia acabado. Porém, não obtenho sucesso em minha procura. Mas, em compensação, observo com curiosidade os jovens da cidade, todos com boné na cabeça, sentados em mesas ao redor da praça e bebendo o conteúdo de garrafas pet de 2 litros de Coca-Cola.



Dia 04 – sábado, 17 de abril de 2010.


06h18min: No café da manhã, cumprimento o oitavo integrante da equipe, Leo Stopa, que chegou de BH na noite anterior. Ele veio em um Uno Way alugado pela produção que muito ajudará o constante tira-e-põe de malas e equipamentos. Léo também trouxe cartões de memória extras para facilitar a transferência de informações para o HD.


06h23min: Novamente tenho que tentar me satisfazer com margarina no pão. Mas não consigo. Começo a considerar em ir a um supermercado para comprar um pote de manteiga e carregá-lo comigo.


06h52min: Du Gomes, eletricista e maquinista do filme, varre a camada de poeira que cobre as camionetes F-200. Em seguida, malas e equipamentos são carregados nos carros e o check-out do hotel em Bambuí é concluído.


07h15min: Na estrada de terra em direção à Chácara Esperança, dos produtores de queijo canastra Luciano e Helena, em Medeiros, avistamos gaviões e siriemas.


07h43min: O casal Luciano e Helena nos recebe com bolo de fubá e café (ufa, sem açúcar!) em sua cozinha com fogão à lenha. Em seguida, ele me mostra um pernil de cabrito marinando em vinho, alho, cebolas e ervas. Por saber que gosto de cozinhar, Luciano me encarrega da tarefa de prepará-lo no início da noite.


09h35min: Imagens e depoimentos são feitos dentro da queijaria de Luciano e Helena. A equipe acompanha a rotina diária do feitio do queijo canastra na fazenda.


12h28min: Em uma roda de conversa montada debaixo de pés de amora, gravamos depoimentos de produtores de queijo artesanal da região de Medeiros.


Helvécio e eu junto dos queijeiros de Medeiros.



13h17min: Almoço! A equipe serve seus pratos diretamente do fogão à lenha na cozinha de Luciano e Helena. No cardápio, lombo recheado com queijo, arroz, salada, pirão, lasanha de queijo, e frango ensopado.


Luciano corta seu queijo para provarmos.



13h36min: Viro o pernil de cabrito e decido colocar um bocado de suco de lima da pérsia na marinada.


14h27min: Gravamos Luciano no curral conversando com suas vacas pelo nome.


16h12min: Em direção a um local onde gravaremos imagens de pôr do sol com a Serra da Canastra ao fundo, vemos uma cascavel morta (provavelmente a pauladas) na beira da estrada.


16h38min: Peço para Gil encostar o carro ao lado de uma casa em Medeiros cujo jardim tem um pé de alecrim selvagem. Roubo um bocado para colocá-lo na marinada do pernil.


17h19min: Coloco o pernil de carneiro no forno e passo a vigiá-lo.


19h20min: Transfiro o pernil para a churrasqueira de Luciano, onde irei terminar seu preparo.


20h05min: Anuncio que o pernil está pronto. Sirvo-o com o molho da marinada, feito com vinho e lima da pérsia. Pela quantidade de “huuummm” que escuto, creio que todos aprovaram minha receita.


Churrasco de cabrito com Luciano em Medeiros.



20h47min: Despedimos de Luciano e de Helena e partimos para a próxima cidade: Rio Paranaíba, que fica distante cerca de 150 km de Medeiros.


21h12min: Ao passarmos por dentro de Bambuí, os celulares começam a apitar sem parar acusando o recebimento de mensagens e de chamadas não atendidas. Pois, em Medeiros, não havia sinal de telefonia móvel.


22h11min: Parada para abastecimento em posto na BR-262. Gil, Helvécio e eu compramos picolés Magnum Dark Chocolate.


23h02min: Chegada ao Resende Palace Hotel, em Rio Paranaíba. Fico encarregado de cuidar do queijo canastra que o Luciano presenteou a equipe.


23h22min: Encontro problemas durante o check-in. Mesmo com o hotel vazio e o preço da diária dos quartos sendo igual, o recepcionista me coloca num quarto com vista para um paredão branco. Depois de muita batalha, ele encontra um quarto disponível com vista para a cidade.



Dia 05 – domingo, 18 de abril de 2010.


07h13min: Uau! Encontro manteiga no café da manhã!


07h22min: Carlinhos me entrega o queijo canastra do Luciano que eu havia esquecido na recepção na noite anterior por causa da discussão com o recepcionista. O olhar dele já diz tudo sobre evitar uma nova mancada. Ops...


07h29min: O assunto no café da manhã é a incompetência do arquiteto do hotel, que colocou a maioria dos quartos com vista para uma parede branca.


08h38min: O primeiro depoimento dia acontece em uma loja de produtos agropecuários em Rio Paranaíba. Será com Francisco, filho de um produtor de queijo artesanal da região queijeira do Cerrado. Enquanto a iluminação é ajustada, muitos da equipe compram botinas de couro a ótimos preços. Eu inclusive.


Gravação em loja de agropecuária em Rio Paranaíba.



10h13min: Deslocamento em estrada de terra para a fazenda de Valdete e Maria Perpétua. Mais de 1 hora de viagem chacolejante.


11h29min: Valdete convida todos para sua cozinha, onde sobre a mesa há pães de queijo, pernil na lata, queijo minas frescal, café com muito açúcar e, acreditem, suco em pó (tipo Tang) apesar dos muitos pés carregados de laranja e de mexerica que existem ao redor da casa.


Equipe na cozinha de Valdete e Maria Perpétua.


12h11min: Vejo bezerros bebendo o soro do queijo que acabara de ser feito.


13h47min: No sítio de Francisco, somos apresentado ao mascote Tupi, um lindo tucano que não voa.


17h38min: No quarto do hotel, assisto o Cruzeiro ser eliminado pelo Ipatinga no Campeonato Mineiro.


19h42min: Em uma pizzaria tenho que agüentar as gozações de Carlinhos e Helvécio, ambos atleticanos. O estabelecimento, o único aberto no domingo à noite em Rio Paranaíba, é “point” da garotada. Muita paquera. Pedimos Heineken e pizzas Napolitana e à Moda.



Dia 06 – segunda-feira, 19 de abril de 2010.


07h16min: Início do deslocamento da equipe para o próximo destino: Coromandel. Porém, no caminho, iremos gravar em Tiros uma fábrica que produz queijo minas padrão. Ou seja, feito com leite pasteurizado.


08h22min: Em Tiros, ficamos sabendo pelo gerente da fábrica que devemos nos deslocar outros tantos quilômetros até Quintinos, onde iremos acompanhar a produção do queijo industrial.


08h58min: Avistamos pivôs de irrigação imensos em campos cobertos de soja. Também vemos cafezais e milharais de se perderem de vista.


09h36min: Na fábrica em Quintinos, somos recepcionados com afé, pão de queijo e bolo.


Dentro de uma fábrica, gravando queijos feitos com leite pasteurizado.



10h02min: Depois de colocar jaleco, touca, máscara, e calçar botas de borracha, eu, Gil, Helvécio, Gustavo (som direto) e Marcinho (Assistente de Câmera) entramos na fábrica para acompanhar como acontece a produção do queijo minas padrão industrial.


12h36min: O almoço, oferecido pelo gerente da empresa, acontece em uma casa ao lado da fábrica. Há frango assado, feijão tropeiro, pururuca industrial, salada, e arroz. De sobremesa, pedaços de queijo com goiabada.


15h46min: No caminho para Coromandel, fazemos imagens de plantações e placas de sinalização.


17h36min: Chegada ao Hotel Dona Adélia, em Coromandel. É uma hospedagem para viajantes e pessoas em trânsito. Lembra os hotéis de beira de estrada vistos em filmes americanos.


18h02min: Imagem surreal: centenas de pessoas de todas as idades e classes sociais estão na praça central de Coromandel seguindo as ordens de uma professora de ginástica em cima de um palco. A trilha sonora que embala a ginástica é a pior possível: “rebolation” e axé.


19h49min: O jantar acontece no restaurante Gullas. O ambiente sofrível é iluminado por lâmpadas fluorescentes. Peço uma picanha para dividir com Gil e Helvécio. Difícil comê-la de tão ruim. Veio destroçada em pequenos pedaços, acompanhada de mandioca dura e batata palha velha. Por isso, me levanto e vou até o Filé à Parmegiana que outros pediram e roubo um pedaço.


20h11min: Percebo que todos os clientes do restaurante, com exceção da nossa mesa, assistem sem piscar à novela na TV de LCD.


21h09min: No loja de conveniência do posto de gasolina ao lado do hotel, compro um picolé Magnum Dark Chocolate. Helvécio opta procura por um chocolate Talento preto 55% de cacau. Não encontra e é obrigado a se contentar com um Nestlé 50% sem açúcar.



Dia 07 – terça-feira, 20 de abril de 2010.


Acordo com pessoas conversando alto. Muito alto. Parecem estar bêbados. Onde estão? Será no hotel? Ou será que estão ao lado do hotel? Olho as horas no celular: 03h32min! Escuto um berro de “cala a boca!”. Provavelmente de algum outro hóspede que também deve ter acordado com a barulheira.


06h49min: De volta ao café da manhã com margarina. Desta vez, de péssima qualidade. Imagino que seja margarina daqueles latões de alumínio. Observo os demais hóspedes: alguns parecem ter pulado da cama direto para a mesa de café da manhã sem passar por banheiro: cabelo arrepiado, pijamas e chinelos de dedo. Huh?


06h57min: Outros integrantes da equipe dizem que também acordaram com a conversa alta dos bebuns no meio da noite.


08h24min: No caminho de estrada de terra (mais poeira!) para uma fazenda queijeira, gravamos imagens da vegetação típica do cerrado.


Na região de Coromandel.



10h11min: Com a permissão do dono da fazenda, Carlinhos colhe laranjas e mexericas para a equipe. Enquanto isso, mais um depoimento é gravado. Desta vez, ao lado de um forno feito de barro.


11h03min: Durante gravação ao redor de vacas pastando, Gil inventa de girar a câmera 360º. A equipe, desesperada com o movimento súbito, tenta ficar atrás dele. Resultado da correria: todos atolam os pés em cocô de vaca.


Gravando as vacas no pasto.



11h21min: Toda a equipe limpa os tênis e as botinas sujas de cocô com gravetos. Esfregam os pés em brita, em capim.


14h37min: Imagens e depoimentos são feitos em um entreposto em Coromandel. Porém, um dos depoentes, com medo da câmera, fugiu. Como disse Gil, ele “escorregou como quiabo”.


Imagens feitas em um entreposto em Coromandel.



15h37min: Por causa da demora dos depoimentos no entreposto, o almoço foi mais tarde. Como todos os restaurantes da cidade fechados, o jeito foi recorrer para X-Tudos numa padaria. Porém, as funcionárias sofrem para atender os oito integrantes da equipe e atolam na chapa, deixando hambúrgueres queimarem e esquecendo a ordem dos pedidos.


16h29min: Saída de Coromandel com destino a Três Marias.


19h23min: Chegada ao Hotel Hebron, no centro de Três Marias.


19h49min: No Hotel Hebron, o melhor chuveiro e a melhor toalha de banho até agora.


20h35min: Jantar no restaurante Pintado na Brasa. Pedimos, é claro, pintado (surubim) na brasa com arroz branco, batatas sautê, cebolas e tomates gralhados. Sem dúvida, foi o melhor jantar da viagem até o momento.



Dia 08 – quarta-feira, 21 de abril de 2010.


07h22min: Oba! Manteiga de sachê Itambé no café da manhã. E também frutas, bolos, pão de queijo... Decido compensar o atraso dos cafés da manhã ruins.


08h05min: Carlinhos estranha a não abertura do comércio no centro da cidade. Procurava uma casa lotérica para fazer pagamentos. Explicamos ser feriado de Tiradentes.


08h18min: Deixamos Três Marias em direção ao Serro.


08h29min: Avistamos às margens da BR-040 a imponente e bela represa de Três Marias.


10h14min: Já na BR-259, os três carros da equipe encostam para quem quiser molhar as plantinhas. Carlinhos oferece barras de cereais, mexericas e garrafas d’água.


11h13min: Gravação de imagens da Serra do Espinhaço entre Presidente Juscelino e Gouveia.


A imponente Serra do Espinhaco.



12h02min: Chegada ao Serro. Fazemos uma parada para gravar uma panorâmica da cidade de cima de uma laje.


12h17min: Check in na Pousada Mariana.


12h49min: Almoço no restaurante Dodoia e Junior, onde há uma gostosa comida caseira servida diretamente do fogão. Júnior pergunta quem quer ovos fritos. Todos aceitam: cinco com a gema dura e três com a gema mole.


13h37min: Helvécio, Carlinhos e eu conversamos sobre o restante do cronograma de filmagem.


15h21min: Gravação de imagens no Serro: becos, igrejas, escadarias, plano geral da cidade, etc.


A equipe em frente a escadaria da Igreja Santa Rita, no Serro.



18h04min: No salão de café da manhã da pousada, assistimos ao material gravado.


19h57min: Helvécio e Gil vão em busca de caldos no restaurante em frente ao hotel. Eu opto em tomar um banho antes de ir jantar na Dodoia e Junior.


20h54min: Carro parado com som alto na porta da Dodoia e Junior. Muita meninada. Encontro com o resto da equipe, que se encontra dentro do restaurante. Pedimos filé acebolado com fritas e, depois, peço um caldo de mandioca com carne seca desfiada.


22h32min: Leio a biografia de Tim Maia com a TV ligada sem som no jogo Atlético e Sport pela Copa do Brasil. Minutos depois, escuto Helvécio gritar “gol!” do Atlético. Pelo jeito, terei que enfrentar mais gozação no dia seguinte.



Dia 09 – quinta-feira, 22 de abril de 2010.


07h06min: O café da manhã da Pousada Mariana tem manteiga! Oba! E ainda queijo do Serro, pão de queijo, frutas, bolo, presunto (e não apresuntado como estávamos acostumado).


07h12min: Carlinhos chega ao salão do café da manhã trajando o uniforme do Atlético. Sou alvo de gozações dele e de Helvécio por causa da vitória do time mineiro sobre o Sport na noite anterior.


07h29min: Elcione, funcionária da Divisão do Turismo do Serro, que nos ajudará durante o período de gravação na cidade, comenta comigo que o programa CBN Sabores BH (do qual sou apresentador) que fiz sobre o Serro teve grande repercussão. Na ocasião, disse que o município possui estrutura turística precária e os restaurantes são fracos. Por causa destes comentários, recebi elogios de alguns e condenação de muitos.


07h39min: Deslocamento até a fazenda Engenho da Serra, de Jorge Simões. No caminho, muita névoa e serração.


07h56min: Avistamos um casal de avestruz zanzando pela estrada. Elcione diz que estamos próximos da propriedade de Jorge e que os bichos são dele.


08h42min: Realizamos as primeiras imagens na fazenda de Jorge; entre as quais, destaco o moinho d’água usado fazer fubá, um paiol com uma imensa banca de madeira onde era feito o queijo antigamente, um museu com formas de queijo de alumínio e uma cozinha pra lá de rústica.


Gravação em uma fazenda no Serro.



09h49min: Jorge nos convida para sua cozinha. Lá, ele nos serve café e fatias de queijo. Enquanto todos comem, vou fuçar o que está cozinhando no fogão à lenha. A esposa de Jorge me diz que está começando o preparo de nosso almoço: frango com ora-pro-nóbis e angu.


10h27min: Gravamos o depoimento de Jorge Simões em seu paiol. Ele conta como surgiu o queijo do Serro e fala da importância de sua imaterialidade em âmbito nacional.


12h21min: O almoço acontece na longa mesa de madeira da cozinha da fazenda. Antes de servir, fico boquiaberto com as panelas de alumínio expostas em uma prateleira. Todas areadas à perfeição. Ao perceber que a equipe está tímida para começar a se servir no fogão à lenha, não titubeio e puxo a fila. Vou logo abrindo as panelas: temos frango ensopado com ora-pro-nóbis rasgado, angu feito com fubá de moinho d’água, arroz, feijão, e salada de alface. De sobremesa, doce-de-leite com fatias de queijo. E fechando, cafezinho. No fim da refeição, julgo que acabei de vivenciar um dos pontos altos da viagem.


13h14min: Gil cochila em um banco feito de tronco de árvore que existe na cozinha. Eu, sentado em uma banqueta, fico pescando de sono. Percebo que os olhos de Helvécio também parecem pesados. Seria culpa do frango com ora-pro-nóbis?


Marcinho, Elcione e Gil na cozinha de Jorge Simoes.



15h43min: Diante a prefeitura do Serro, a equipe espera por Isnar Pimenta, vice-prefeito da cidade, que irá nos levar até a fazenda de seu pai.


16h05min: Como a espera é longa, Gil e eu vamos até uma lanchonete comprar picolés. Como não encontramos o já tradicional Magnum Dark Chocolate, recorremos ao picolé Talento Intense (o de embalagem preta), que tem cobertura de chocolate meio-amargo.


17h24min: Com o sol caindo rapidamente no horizonte, Gil decide iluminar a varanda da casa do Sr. Aurélio Pimenta, pai de Isnar. Minutos depois, gravamos o depoimento de Sr. Aurélio junto com sua esposa Dona Terezinha e o filho Isnar,


18h13min: Sr. Aurélio e Dona Terezinha nos convidam para a cozinha. Somos agraciados com uma mesa repleta de quitandas, como biscoitinhos de queijo, de nata, de canela, rosquinhas diversas, palitinhos, quebra-quebra. Tudo feito por Dona Terezinha. Há ainda queijo e café. A equipe tira várias fotos. Tanto dos anfitriões quanto da mesa bem posta.


Na cozinha de Dona Terezinha.



18h29min: Dona Terezinha me convida para um tour pela casa e mostra com orgulho seu forno de barro, seu tacho de cobre usado para fazer doces e uma gigantesca colher de pau.


20h33min: Helvécio, Gil e eu caminhamos da Pousada Mariana até a praça principal do Serro. Mas, infelizmente, a música inadequada e em alto volume que tocava em uma pizzaria nos leva de volta para a parte mais alta da cidade. Optamos por jantar na Dodóia e Júnior, mesmo apesar do local também ser bombardeado pelo som alto de um carro de um “boyzinho” estacionado na porta. Encontramos com o restante da equipe dentro do bar. Ali, mais longe do barulho externo, dá pelo menos para ouvir o que o outro diz. Para começar, pedimos uma porção de mandioca frita e lingüiça picante. Depois, uma de filé acebolado com fritas. Quando o sono começa a me nocautear, peço licença e retorno à pousada.



Dia 10 – sexta-feira, 23 de abril de 2010.


Acordo com o cantar de galos. Apanho meu celular e olho as horas: 6h27min. “Uau”, exclamo ao perceber que, depois de muito tempo, consegui finalmente dormir durante 8 horas.


8h09min: A primeira locação do dia é na Cooperativa dos Produtores Rurais do Serro, que fica no Largo da Rodoviária. Este é um dos lugares mais muvucados da cidade. É comum ônibus disputarem o espaço de uma apertada rua de acesso com carros e caminhões. Muitas vezes não passa nem um nem outro. Também percebo haver dezenas de senhores usando chapéu, uma tradição ainda viva no Serro.


Nas proximidades da Praca da Rodoviaria, no Serro.



8h36min: Gil faz imagens de gôndolas com queijo dentro da cooperativa. Fico abismado ao perceber que o queijo industrial do Serro é vendido a preço mais alto que o queijo artesanal. “Ué”, digo em voz alta, “como pode uma cooperativa de produtores rurais dar mais valor ao queijo de fábrica do que ao queijo das fazendas?”.


9h02min: Enquanto esperamos a chegada do presidente da cooperativa para gravar seu depoimento, Gil, Helvécio e eu vamos até uma prosaica sapataria/selaria que se encontra nas proximidades do Largo da Rodoviária. O local é extremamente fotogênico e muito peculiar, com sapatos empilhados por tudo que é canto esperando conserto.


11h26min: Gravamos imagens em um entreposto que recebe, analisa, processa, e embala os queijos artesanais certificados pelo IMA provenientes de fazendas na região do Serro. Do lado de fora, um atravessador espera por queijos não aprovados na inspeção do entreposto para comprá-los e revendê-los em Belo Horizonte.


11h36min: Num canto do entreposto, um garoto em carro de bois enche galões de plástico com soro para dar aos porcos e gados em sua fazenda.


12h28min: O almoço é novamente no restaurante Dodoia e Júnior. No cardápio, costelinha com quiabo, feijão preto, abobrinha d’água refogada, farofa, couve e bife de boi ou porco acebolado.


13h05min: Uma vez que a saída será às 14h, julgo ter tempo para um cochilo na pousada.


14h23min: Deslocamento para a fábrica de queijo industrial para fazer imagens internas.


15h32min: Na fazenda do produtor João Magno, antes de começar a gravação de seu depoimento, passeio pelo pomar. Depois, fico impressionado com o tamanho dos porcos em um chiqueiro. Imensos!


16h17min: João Magno e sua esposa nos convidam para sua sala. Lá, somos recebidos com goiabada, rosquinhas, café e, é claro, queijo.


16h41min: Um casal de amigos de João Magno chega em uma Variant bem antiga. Sem muitas cerimônias, vão até o pomar para apanhar mexericas. Minutos depois vão embora levando três sacos de aniagem imensos cheios da fruta.


17h43min: A equipe se depara com aquele que é talvez o maior desafio da viagem até o momento: iluminar um porão comprido e sem janelas. Ali, haverá um evento conhecido como “Café com Queijo” que reunirá cerca de 20 pessoas em uma roda de conversa.


Da esq. p/ dir.: Marcinho, Carlinhos (ao fundo), Gustavo, Du, e Gil
no porão de uma casa no Serro.



19h31min: Finalmente começa o Café com Queijo. O formato é uma meia-lua com quase duas dúzias de pessoas sentadas em cadeiras debatendo tópicos diversos relacionados ao queijo. Em determinados momentos, a discussão fica acalorada e acontecem alguns bate-bocas; o que é ótimo para o filme.


22h19min: Gil e eu sentamos em uma restaurante na praça principal da cidade. Pedimos uma porção de filé acebolado com mandioca (comprada congelada!). Para compensar o desânimo de comer mandioca congelada em pleno Serro, terra de Dona Lucinha, compro um picolé Talento Intense para sobremesa.



Dia 11 – sábado, 24 de abril de 2010.


07h27min: No salão de café da manhã da Pousada Mariana, percebo uma novidade: uma geladeira vertical com queijos do Serro à venda. Fico feliz ao saber que este foi um fruto das críticas que fiz à cidade no programa CBN Sabores BH. Na ocasião, contei sobre a dificuldade dos turistas de comprar queijos no Serro em fins de semana, pois a cooperativa se encontra fechada nestes dias. Por causa disso, os responsáveis decidiram acatar minha sugestão e passar a vender os queijos nas próprias pousadas.


08h09min: As F-200s param em um posto de gasolina para abastecer e calibrar os pneus. Mas, infelizmente, não temos tempo para lavá-las. A poeira que cobre os veículos é tamanha que mais parece que a cor destes é marrom e não cinza.


08h49min: Chegada à última fazenda queijeira da viagem: a de Raulzinho. Seu queijo foi o vencedor do mais recente concurso de queijos do Serro.


09h22min: A primeira parte do depoimento de Raulzinho é feita no curral. Em segundo plano, vemos um bezerro mamando ao lado de tetas “engatilhadas” com a ordenha mecânica.


09h45min: O depoimento de Raulzinho dá prosseguimento dentro de seu quarto de queijo. Diversas imagens são feitas: prensagem à mão, viragem do queijo, salga, limpeza das bancas, etc.


10h48min: Na cozinha de Raulzinho (me impressiono com as dezenas de panelas perfeitamente areadas em várias prateleiras), somos convidados para provar diversos queijos; cada um com um grau de maturação diferente. Na mesa, há ainda pães de queijo, manteiga, café e leite.


A cozinha de Raulzinho.



12h21min: Ao lado da escadaria da igreja de Santa Rita, um dos principais postais de Minas Gerais, gravamos o último depoimento da viagem com um atravessador de queijos.


12h49min: Almoço na Dodoia e Júnior. A equipe faz um brinde junto de Paulão e sua esposa Zara, que tanto nos ajudaram durante nossa estadia na cidade. Agradecemos por tudo ter corrido bem durante o período de viagem. De almoço, peço um bife acebolado com ovo com a gema bem mole.


13h31min: Despeço de Carlinhos, Marcinho, Du, Gutavo e Léo, pois estes seguirão para Belo Horizonte um pouco antes de Gil, Helvécio e eu. Nós, ao contrário deles, optamos por um rápido cochilo antes de pegar a estrada de volta pra casa.


14h45min: Hora de colocar as malas e demais pertences na F-200. Dentro da cabine da camionete, há vários queijos amontoados no banco de trás. O cheiro? Melhor nem querer imaginar. Além disso, há sacos com mexericas colhidas nos pomares de fazendas, caixas com botas de couro compradas em Rio Paranaíba, mochilas, pastas, e HDs.


17h03min: Pela primeira vez na viagem, somos parados por policiais. Um deles pede os documentos de todos (e não apenas o do motorista) e pergunta qual a nossa profissão e o que estamos fazendo. Minutos depois, após checar nossa identidade via rádio, somos liberados sem problemas.


17h58min: Parada para xixi num posto de gasolina de quinta categoria no entorno de Paraopeba. Entro na lanchonete em busca de um cafezinho, mas fico desanimado ao ver a vitrine de salgados feitos Deus sabe quando. Prefiro então pedir apenas uma garrafinha de água gasosa.


19h22min: Depois de mais de 10 dias de viagem, chego em casa. Mas, por incrível que possa parecer, as saudades da viagem já pesam um pouco no coração.



Dia 12 – domingo, 25 de abril de 2010.


Dia sem olhar para as horas no celular. Dia de descanso. Pois, amanhã, segunda-feira, as filmagens seguem adiante. Desta vez em Belo Horizonte.



Dia 13 – segunda-feira, 26 de abril de 2010.


07h38min: Gil me apanha em seu carro em frente ao prédio onde moro. Seguimos para o edifício de Helvécio para apanhá-lo.


07h58min: Gil estaciona em frente a um prédio residencial no bairro Gutierrez. Nosso primeiro depoimento será no apartamento do historiador José Newton Menezes, responsável pelo dossiê do Iepha que culminou com o tombamento do queijo minas artesanal.


08h46min: José Newton nos convida para sua cozinha. Sobre uma mesa, há um queijo minas artesanal do Luciano (da Chácara Boa Esperança, em Medeiros), manteiga, pão de queijo, geléia de jabuticaba, e café.


10h35min: Chegada ao Mercado Central de Belo Horizonte.


10h48min: Carlinhos me chama num canto e pergunta qual o melhor lugar para almoçar no mercado. Sem pestanejar, digo ser o Casa Cheia. Carlinhos pede então para eu ir até o local e reservar uma mesa para 10 pessoas.


Gravacao no Mercado Central em BH.



10h52min: Aproveito a ida ao Casa Cheia para parar em uma banca e comprar um pote de doce de leite Viçosa, o meu favorito.


10h59min: É iniciada a gravação do segundo depoente do dia. Helvécio conversa com Rodrigo, comerciante de queijos artesanais e dono da Loja do Itamar. No final do depoimento, Rodrigo dá cascudos em alguns queijos e ensina como escolher um queijo maturado. Para isso, é preciso saber “ouvir” o queijo.


11h33min: O outro depoimento colhido no mercado é com Ronaldo, comerciante de queijos e dono da Ronaldo Queijos. Ele conta que seus queijos artesanais vêm, principalmente, da região do Cerrado. Depois, Ronaldo revela que é regra comum no mercado batizar os queijos de cidades como Patrocínio, Coromandel e Cruzeiro da Fortaleza, que pertencem à região do Cerrado, como queijos Canastra.


11h41min: Gravação de imagens ilustrativas do Mercado Central como senhoras escolhendo um queijo para comprar, comerciantes embalando produtos, e pessoas caminhando pelos corredores.


12h21min: Simone, esposa de Helvécio, e Mariana, funcionária da Quimera Filmes, chegam ao Casa Cheia para almoçar conosco. Sobre a mesa, encontram uma porção de pernil com fígado acebolado e jiló que havíamos pedidos como tira-gosto. Como prato principal, peço o Mineirinho Valente, uma canjiquinha servida com lombo defumado, lingüiça, costelinha e espinafre. Antes de irmos embora, peço algumas colheres para o garçom. Abro meu pote de doce de leite e circulo pela mesa para quem quiser prová-lo.


13h37min: Para fechar o almoço com chave de ouro, vamos ao Café Dois Irmãos. Alguns pedem cafezinho de coador e outros expresso.


14:49min: Na sede da Emater – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural -, localizada na Av.Raja Gabaglia, colhemos os últimos dois depoimentos do dia com técnicos responsáveis pela implementação do programa “queijo minas artesanal”.


17h16min: Gravação de imagens externas diante o prédio da Emater, as últimas do dia.



Dia 14 – terça-feira, 27 de abril de 2010.


07h43min: Aproveito a espera por Helvécio diante o seu prédio para gravar via celular o programa CBN Sabores BH, que apresento diariamente na rádio CBN com Marcelo Guedes. Na pauta, o 2º Fórum Mineiro de Gastronomia e o lançamento da "Conspiração Gastrônomica", uma OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – que propõe a valorização e o incentivo do turismo gastronômico em Minas Gerais. O evento, anuncio, acontece no Espaço 104, no centro da cidade.


08h22min: Iniciamos os primeiros depoimentos do dia conversando com responsáveis técnicos da regional do Ministério da Agricultura. Apesar de estar em plena Av. Raja Gabaglia, o local é bastante agradável, com muitas árvores e plantas. Parece uma espécie de oásis em meio ao caos urbano de uma cidade grande.


Na regional do Ministerio da Agricultura.



10h40min: No Mercado Distrital do Cruzeiro, em breve intervalo das gravações, parte da equipe saboreia quibes e esfihas no Empório Sírio Libanês, uma loja especializa em iguarias árabes.


11h08min: Na delicatessen Royal, no Mercado Distrital do Cruzeiro, gravamos imagens de queijos nacionais e importados (além, é claro, de queijos minas artesanais) e, depois, o depoimento de Cristovão, o proprietário da loja.


12h32min: O almoço é no Bar do Antônio (também conhecido como “Pé de Cana), um tradicional boteco no Sion que é um dos meus preferidos na cidade. Para começar, pedimos o tira-gosto concorrente do Comida di Buteco 2010: o Tá No Jiló, jiló gratinado com bolinhos de lingüiça e de carne de sol. Depois, a maioria, eu inclusive, pede PF de picanha. Ou seja, arroz, feijão, farofinha, maionese de batatas ou batatas chips, e salada. Como não sou bobo nem nada, peço ainda um ovo frito com a gema bem mole para coroá-lo. De sobremesa, vou de palha italiana e, por fim, um espresso.


13h39min: Como o próximo depoimento está marcado somente para as 17h, temos o principio da tarde livre. Assim, decido ir para casa para tirar um cochilo, responder e-mails e pôr os telefonemas em dia.


16h26min: Chego à sede da Quimera Filmes, a produtora de Helvécio. Converso com ele sobre os depoimentos do dia seguinte. Pois como o diretor estará em viagem a trabalho, serei o responsável pelas entrevistas neste dia.


16h48min: Chegada da equipe à sede do IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária), no bairro Santa Efigênia, para gravar o último depoimento desta terça-feira.



Dia 15 – quarta-feira, 28 de abril de 2010.


07h41min: No supermercado Verdemar da Avenida Nossa Senhora da Carmo, começamos o último dia de produção gravando imagens de gôndolas de queijo.


08h15min: Carlinhos convida todos para tomar café da manhã na cafeteria do supermercado (“Droga!”, digo para mim mesmo, “por que tomei café da manha em casa quando podia tê-lo feito ali junto de todos?!”). Alguns pedem pães de queijo e outros sanduíches. Carlinhos, esperto, vai à padaria do supermercado, compra pães de sal e, depois, apanha uma bandeja de isopor com fatias de mortadela. Senta à mesa e prepara um belo de um sanduíche que, apesar de estar sem fome, fico babando em cima dele. Mas o inacreditável é que alguns pedem Coca Cola ao invés de bebidas matinais. Eu, para não ficar só de bobeira sentado ali, peço um picolé de sorbet de chocolate D.O.C. da Diletto para a garçonete. Gil, depois de finalizar seu Beirute, repete meu gesto.


10h08min: No departamento de veterinária da UFMG; mais especificamente no laboratório de análise de leite cru, conduzo a primeira entrevista do dia. O depoente é um professor que acredita que os queijos deveriam ser feitos somente com leite pasteurizado, como dita a lei federal do país sancionada em 1952.


Carlinhos, Gustavo, Gil, Du, e Marcinho em frente na UFMG.



10h54min: Damos início à viagem até a Universidade Federal de Viçosa, distante 225 km de Belo Horizonte. Vou no carro de Gil (que de lá seguirá viagem para sua casa, em Petrópolis) enquanto o restante da equipe segue em uma van.


11h33min: A van diminui a velocidade e encosta na pista. Carlinhos desce do veículo para nos oferecer barras de cereais, frutas, sucos ou refrigerantes.


14h03min: Gil e eu conversamos sobre a ruim condição da estrada entre Ouro Preto e Viçosa e sobre a quantidade de caminhoneiros barbeiros e imprudentes que por esta trafegam.


15h11min: Chegada à Viçosa. A equipe, retorcendo de tanta fome, procura por restaurantes abertos. Depois de batermos à porta de meia dúzia de estabelecimentos, somos informados por um taxista que o único lugar aberto é churrascaria Cabana, que fica justamente às margens da rodovia de onde viemos, uns cinco quilômetros antes de chegar à cidade.


15h29min: Na churrascaria Cabana, interrompemos o almoço do único garçom do lugar. Com desodorante vencido há dias, ele nos atende de prontidão perguntando o que queremos comer. Respondemos: churrasco. Este é servido à moda de antigamente, em espetos, e guarnecido de batata frita, arroz, farofa e vinagrete.


16h17min: Seguimos pelo campus da universidade de Viçosa em direção ao departamento de tecnologia de alimentos. Fico impressionado com o local, que me faz lembrar de universidades vistas em filmes americanos.


16h45min: Dou início ao último depoimento do filme, feito em um laboratório com uma professora que realiza pesquisas com queijos feitos de leite cru.


O ultimo depoimento do filme acontece em um laboratorio
na Universidade Federal de Vicosa.



17h12min: Gravamos imagens do campus universitário, as últimas do filme.


17h32min: Após despedir de Gil, damos início à viagem de volta para Belo Horizonte.


19h47min: A última refeição 0800 do filme acontece no Retiro Novo, nos arredores de Cachoeira do Campo. O local é uma ótima opção de parada para quem vai de Beagá a Ouro Preto, pois oferece gostosas empadas, pão de queijo com lingüiça, pedaço de queijo no palito, mingau de milho verde, arroz doce, além de ter uma pequena lojinha que vende goiabada da Christy (a melhor que conheço) e doce de leite Viçosa. Peço um pão com lingüiça e um café com leite. Em seguida, retorno à van e penso por alguns instantes antes de adormecer o quanto foi ótimo ter participado da produção do filme “O Mineiro e o Queijo”.


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