Há poucas semanas fui ao Cinemark Pátio Savassi assistir a Desejo e Reparação, que está indicado às principais categorias do Oscar 2008. Apesar de ter gostado bastante do início do filme, achei que ele descamba para a chatice assim que o protagonista segue para a guerra na França. Há várias cenas que azedam tamanha a quantidade de açúcar (pôr do sol, campos floridos, lágrimas, cartas escritas à meia luz; tudo recheado com trilha sonora melodramática criada para arrancar emoções fáceis no espectador). Engasgado com a quantidade de clichês (como o do homem apaixonado que corre em câmera lenta atrás do ônibus de sua amada), considerei cair fora da sala e ir ler minha revista Piauí na companhia de uma xícara de expresso. Olhei meu relógio e disse a mim mesmo que daria dez minutos para a história engrenar. O tempo passou e, com medo de grudar no assento com a quantidade de melaço que jorrava da tela, fui embora do cinema quando faltavam uns trinta minutos para o filme acabar.
Ao chegar em casa, fiz questão de ler as resenhas de críticos que admiro para entender o porquê da admiração de muitos pelo filme. Constatei que alguns deles, assim como eu, condenavam o segundo ato, meloso e cansativo. Porém, li que o desfecho da história (ou seja, os trinta minutos que não assisti) era surpreendente, não apenas pela sua força narrativa, mas também por explicar o motivo do uso excessivo de açúcar. “Droga! Agora vou ter que voltar ao cinema e assistir ao resto do filme”, disse enquanto me estapeava.
No dia seguinte, chequei no jornal os horários das sessões no mesmo Cinemark Pátio Savassi. Calculei que deveria entrar na sala uma hora e meia após iniciado o filme. Uma vez que a exibição começava às 17h30min, deveria chegar à bilheteria por volta das 18h50min. Foi então que se deu o início de meu martírio.
Como sempre faço, comprei meu ingresso num caixa eletrônico que o emite após o pagamento com cartão de débito. Uma vez que eram 18h52min, a máquina somente oferecia assentos na próxima sessão do filme. Impossibilitado de adquirir meu tíquete para a sessão de 17h30min, comprei-o para a próxima, a de 20h25min. Em seguida, subi a escada rolante e apresentei o ingresso à funcionária que se postava ante a entrada das salas. Ela olhou o horário e disse que a sala ainda não estava liberada. Expliquei que não queria assistir à próxima sessão, e sim os 30 minutos restantes da atual. Com cara de ponto de interrogação, ela replicou que o bilhete era apenas para o próximo horário. Respondi não ser mais possível comprar o ingresso para a sessão em exibição. Como se fumaça fosse sair de seus miolos, a funcionária optou em chamar a gerente. Apesar de querer pular em seu pescoço, optei em apenas encará-la com cara de mau.
Impaciente, olhei para meu relógio: 18h58min. Três minutos depois, chega a chefe. “Senhor, em que posso ajudá-lo?”. Mais uma vez tive que narrar o meu drama. Ao invés de me liberar, a gerente disse que nada poderia fazer: “O ‘Sistema’ não permite comprar ingressos para uma sessão além de 30 minutos após ter sido iniciada”. “Foi por isto que comprei para o próximo horário”, disse. “Então o senhor terá que aguardar a liberação da sala para a próxima sessão”. Expliquei mais uma vez que gostaria de assistir aos 30 minutos finais, e não ao filme inteiro. “Desculpe, senhor, mas nada posso fazer. O ‘Sistema’ não permite”. “Será então que você não poderia chamar o ‘Sistema’ aqui para eu conversar com ele?”, indaguei. De cara fechada, ela preferiu não me responder. Novamente perguntei: “Como faço para ver apenas ao final do filme?”. “Se quiser, deixo o senhor entrar no meio da próxima sessão”. “Quer dizer que tudo bem se eu voltar daqui a umas três horas?” Ela fez que sim com a cabeça. “E durante este tempo, faço o quê? Só se eu começar minhas compras de Natal”, respondi em pleno mês de fevereiro. “Isso é com o senhor”. “E se eu comprar um ingresso para outro filme e entrar na sala de Desejo e Reparação? Pode?”. A gerente disse que se eu fizesse isto, o ‘Sistema’ a obrigaria a chamar os seguranças para me retirar do recinto. “Que filho da mãe esse tal de ‘Sistema’, hein”.
Com o relógio já marcando 19h10min, desisti de assistir o pouco que restava do filme. Pedi meu dinheiro de volta e parti para um cinema aonde o ‘Sistema’ ainda não havia apoderado dos neurônios de seus funcionários.
Prólogo:
Consegui assistir à meia hora final de Desejo e Reparação no Diamond Mall. Valeu a pena. A última cena, com notável atuação de Vanessa Redgrave, compensou o transtorno pelo qual passei.
Ao chegar em casa, fiz questão de ler as resenhas de críticos que admiro para entender o porquê da admiração de muitos pelo filme. Constatei que alguns deles, assim como eu, condenavam o segundo ato, meloso e cansativo. Porém, li que o desfecho da história (ou seja, os trinta minutos que não assisti) era surpreendente, não apenas pela sua força narrativa, mas também por explicar o motivo do uso excessivo de açúcar. “Droga! Agora vou ter que voltar ao cinema e assistir ao resto do filme”, disse enquanto me estapeava.
No dia seguinte, chequei no jornal os horários das sessões no mesmo Cinemark Pátio Savassi. Calculei que deveria entrar na sala uma hora e meia após iniciado o filme. Uma vez que a exibição começava às 17h30min, deveria chegar à bilheteria por volta das 18h50min. Foi então que se deu o início de meu martírio.
Como sempre faço, comprei meu ingresso num caixa eletrônico que o emite após o pagamento com cartão de débito. Uma vez que eram 18h52min, a máquina somente oferecia assentos na próxima sessão do filme. Impossibilitado de adquirir meu tíquete para a sessão de 17h30min, comprei-o para a próxima, a de 20h25min. Em seguida, subi a escada rolante e apresentei o ingresso à funcionária que se postava ante a entrada das salas. Ela olhou o horário e disse que a sala ainda não estava liberada. Expliquei que não queria assistir à próxima sessão, e sim os 30 minutos restantes da atual. Com cara de ponto de interrogação, ela replicou que o bilhete era apenas para o próximo horário. Respondi não ser mais possível comprar o ingresso para a sessão em exibição. Como se fumaça fosse sair de seus miolos, a funcionária optou em chamar a gerente. Apesar de querer pular em seu pescoço, optei em apenas encará-la com cara de mau.
Impaciente, olhei para meu relógio: 18h58min. Três minutos depois, chega a chefe. “Senhor, em que posso ajudá-lo?”. Mais uma vez tive que narrar o meu drama. Ao invés de me liberar, a gerente disse que nada poderia fazer: “O ‘Sistema’ não permite comprar ingressos para uma sessão além de 30 minutos após ter sido iniciada”. “Foi por isto que comprei para o próximo horário”, disse. “Então o senhor terá que aguardar a liberação da sala para a próxima sessão”. Expliquei mais uma vez que gostaria de assistir aos 30 minutos finais, e não ao filme inteiro. “Desculpe, senhor, mas nada posso fazer. O ‘Sistema’ não permite”. “Será então que você não poderia chamar o ‘Sistema’ aqui para eu conversar com ele?”, indaguei. De cara fechada, ela preferiu não me responder. Novamente perguntei: “Como faço para ver apenas ao final do filme?”. “Se quiser, deixo o senhor entrar no meio da próxima sessão”. “Quer dizer que tudo bem se eu voltar daqui a umas três horas?” Ela fez que sim com a cabeça. “E durante este tempo, faço o quê? Só se eu começar minhas compras de Natal”, respondi em pleno mês de fevereiro. “Isso é com o senhor”. “E se eu comprar um ingresso para outro filme e entrar na sala de Desejo e Reparação? Pode?”. A gerente disse que se eu fizesse isto, o ‘Sistema’ a obrigaria a chamar os seguranças para me retirar do recinto. “Que filho da mãe esse tal de ‘Sistema’, hein”.
Com o relógio já marcando 19h10min, desisti de assistir o pouco que restava do filme. Pedi meu dinheiro de volta e parti para um cinema aonde o ‘Sistema’ ainda não havia apoderado dos neurônios de seus funcionários.
Prólogo:
Consegui assistir à meia hora final de Desejo e Reparação no Diamond Mall. Valeu a pena. A última cena, com notável atuação de Vanessa Redgrave, compensou o transtorno pelo qual passei.
Um comentário:
Realmente, a burrice é um espanto.
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