Dia 03 – quarta-feira,
07 de março de 2012
Ao
lado da nossa cabine tem um casal de brasileiros mal educados. Batem a porta a
toda hora, fumam e jogam os tocos de cigarro no deck ou no mar, e falam alto.
Se há algo de ruim para ser destacado neste cruzeiro, coloco no topo da lista a
falta de educação de muitos passageiros.
Dia
de navegação em alto mar. Hoje não haverá parada alguma. Será um dia inteiro
para curtir o navio e descansar bastante.
No
informativo “Today” está escrito que os relógios devem ser adiantados em 1 hora
por causa do horário de verão ainda vigente no Uruguai.
No
café da manhã, puxei papo com uma garçonete brasileira perguntando de onde ela
era, há quanto tempo trabalhava ali, etc. Depois de dizer que era de São Paulo
e que estava em sua primeira temporada no navio, ela falou que era muito bom
encontrar brasileiros bem educados, pois a maioria era nariz em pé e petulante.
Sobre os passageiros argentinos, brincou que todos são mal educados e não
“apenas” a maioria.
Um
exemplo sobre a falta de civilidade dos argentinos aconteceu comigo na piscina.
Eu estava em uma mesa iniciando um novo livro (Millenium - Os Homem Que Não
Amavam as Mulheres, de Stig Larsson) quando uma senhora de uns 60 anos e seu
filho de 30 e poucos me perguntaram se podiam usar a minha mesa para tomar café
da manhã (pode-se servir no bufê do restaurante do 9º andar e ir comer ao lado
da piscina). Disse que sim, que ficassem à vontade. Quando terminaram de comer,
percebi que os dois estavam indo embora sem me agradecer e sem retirar os
pratos e talheres sujos da mesa. Na mesma hora, chamei-os de volta e pedi para
deixar a minha mesa como a encontraram; ou seja, limpa. Os dois assustaram com
o que eu disse e me olharam torto. Na mesma hora tive que repetir com voz
grosso que era para deixar a minha mesa limpa. Quando eles perceberam que eu
era meio maluco, sangue quente, e que estava prestes a fazer um escândalo, eles
na mesma hora limparam a mesa. Interessante pensar que cheguei numa idade em
que tenho que ensinar pessoas mais velhas como se comportarem.
Nas mesas da proa do navio é possível
tomar café da manhã ao lado da piscina
Esta é a piscina da proa, a mais tranquila do navio.
Lorena
me diz que ao circular pela piscina viu um bando de adolescentes dando pulos de
cambalhota na piscina (que é rasa) e aquelas bombas que espalham água por tudo
que é canto. A algazarra era geral. E nada de alguém para chamar a atenção. Os
pais provavelmente estavam dançando Ilariê em alguma outra piscina do navio ou
jogando no Casino (que funciona durante todo o dia quando estamos em alto-mar).
A piscina do meio do navio é a mais agitada.
Pela manhã, fica lotada quando em alto-mar.
Haja gente!
Uma
imagem que nunca vou esquecer é a dos extensos corredores que levam às cabines.
Imagina só o que é um corredor de mais de 200 metros de comprimento! É algo de
se perder de vista. E lógico que penso nos corredores do Overlook Hotel do
filme O Iluminado.
Os corredores tem mais de 200 metros de extensão!
Há
inúmeras atividades para fazer no navio quando em alto-mar. Pode-se ir perder
dinheiro nas máquinas caça níqueis, ir para a academia, visitar a biblioteca, jogar
fliperama, assistir aos senhores de idade dançando os standards do pop
americano da década de 50, etc.
Interessante
notar que apesar de estar no navio há apenas dois dias, já reconheço alguns
rostos nesta “cidade flutuante” de quase cinco mil pessoas.
Gosto
dos quadros de pierrôs que decoram as escadas que fazem o acesso entre um andar
e outro. São ensolarados e de cores quentes e vibrantes.
Escadas de acesso do Costa Mágica
Quadros de piêrros
Outro quadro decorativo
No
bandejão do 9º andar está sendo servido camarões fritos e anéis de lula
empanados. Enfrento uma fila imensa para conseguir prová-los. Um bando de
famintos mal educados colocam pilhas e mais pilhas de comida nos pratos.
Parecem que irão hibernar tão logo cheguem à Argentina.
Devido
à fila do bandejão, chego ao restaurante do 3º andar para almoçar (as lulas e
camarões eram só para abrir o apetite) às 13h46. Um funcionário barra a minha
entrada, pois estava (juro por Deus!) um minuto além do limite do horário. Peço
para chamar o maitre e faço cara de pobre-coitado para que ele me libere para
almoçar. Ele diz que sim e nos indica uma mesa coletiva repleta de argentinos.
Felizmente eles são simpáticos. Fico batendo papo com um deles que se chama
Hector. A melhor maneira para puxar conversa com os “hermanos” é falar de
política. Eles têm inveja do Brasil e dizem que o Lula fez um bem tremendo ao
país. Também escutam que a Dilma está fazendo um ótimo governo. Em compensação,
dizem que a Argentina não vai bem dar pernas.
Sigo
o papo com o Hector elogiando o cinema argentino, que para mim é muito melhor
do que o nosso. Digo que adorei “Um Conto Chino” (Um Conto Chinês). Depois
entramos no assunto futebol. Eles dizem que o Messi é um excelente jogador por
causa da qualidade time do Barcelona. Hector me diz para ter cuidado com os
pivetes na Argentina, cujo número aumenta a cada dia. Por fim, ele me diz que o
melhor dulce de leche de seu país é o Sereníssima estilo Colonial.
De
almoço, peço: melão com presunto cru; rigatoni com carne moída; frango com
Catupiry, arroz branco e banana da terra. De sobremesa, sorvete de avelã.
Após
o cochilo sagrado pós-almoço, vou “curtir” o navio passeando pelos inúmeros salões,
tirando fotos e prestando atenção na decoração. Esta é algo que me faz lembrar
o filme “Priscilla – Rainha do Deserto”. Tudo tem um quê de extravagância,
cores vivas e texturas brilhantes.
Hall central do Costa Mágica
Elevadores panorâmicos
Um dos salões do navio, cadeiras de veludo
azul marinho e quadros psicodélicos
O casino funciona 24 horas quando em alto-mar
Sigo
para a piscina e arrumo uma espreguiçadeira em lugar pouco barulhento. Leio a
revista Menu e, depois, o livro Os Homens Que Não Amavam as Mulheres.
No final da tarde, o deck dá uma esvaziada e se
torna um lugar bem mais prazeroso de ficar.
É até possível encolher em que espreguiçadeira ficar.
Outra visão do deck do navio.
Fim de tarde
Um bom lugar para ler e ver o sol se pôr
O deck em vídeo
Lorena
me diz que ouviu na reunião que dá instruções sobre o desembarque em Buenos Aires
(ela é a “caxias” e eu aquele que senta no fundão da sala) que há 168
brasileiros a bordo em meio a 3330 argentinos e 1027 tripulantes. A razão que
faz ter tanto “hermano” a bordo é que o navio saiu de Buenos Aires, foi até o
Rio de Janeiro (onde entrei juntos dos outros 167 brasileiros), e voltou a
Buenos Aires. Para os argentinos, o cruzeiro seria de sete noites. Para mim, de
quatro.
Vamos
ao teatro para assistir a um musical cuja temática são trechos de filmes, como
Top Gun, Chicago, Batman, Nove Semanas e Meia de Amor, Cabaret, Família Adams, Austin
Powers, etc.
Show musical no teatro
O
jantar desta 3ª noite será o “Jantar de Gala do Comandante”. Ou seja, todos
devem vertir seu melhor paletó. Alguns até colocam gravata. As mulheres devem usar
vestido de festa de casamento e caprichar no cabelo e na maquiagem.
Na
porta do restaurante, Lorena e eu presenteamos o maitre Thomas, que conseguiu
mudar nosso turno de jantar, com o pote de manteiga Aviação que comprei em
Ilhabela. Digo com toda a pompa que a Aviação foi fundada há quase cem anos, que
é a melhor manteiga do Brasil, e que vem do meu estado querido de Minas Gerais,
onde está a principal bacia leiteira do país. O Thomas se emociona com nosso
gesto de carinho e até me dá um beijo no rosto, que pressuponho ser hábito de
agradecimento de seu país, a Alemanha.
Há
velas acesas sobre a mesa, que é para oito pessoas e será dividida com
cariocas. O grupo é um bando de chatos. Reclamam de tudo e dizem que a comida
do navio é péssima. Na mesma hora, pergunto a eles se tem almoçado e tomado
café da manhã no restaurante do 3º andar ou no do 9º. Eles dizem que estão indo
somente ao bandejão do 9º andar. Digo apenas “está explicado”, ao invés do que
gostaria de dizer (“se não gostam e não conseguem cumprir os horários do navio,
tem mais é que comer mal mesmo, viu seus chatos”). Também percebi que o grupo
de cariocas não sabem escolher os pratos do cardápio, pois optam por carne
bovina ao invés dos peixes e frutos do mar. Pior, tratam os garçons com
petulância, que retribuem demorando trazer suas Coca-Colas (é isso mesmo, Coca-Colas).
O cardápio do Jantar de Gala do Comandante
Vou
de salmão marinado, creme frio de papaya, risoto com abobrinha, camarões e filé
de peixe com creme de batatas ao limão, e queijos.
No
final do jantar, o comandante do navio aparece no salão para tirar fotos ao
lado dos passageiros. Ele esbanja muita simpatia (imagino que atualmente todos
os comandantes devem ter que ser ainda mais simpáticos e sorridentes depois da
barbeiragem feita pelo comandante Schettino do Costa Concordia).
Depois
do jantar, Lorena e eu vamos passear no deck. Vemos um navio à distancia
subindo o Atlântico em direção oposta à nossa. É algo inesquecível ver outro
navio à noite em alto-mar.
De
volta a cabine, ligo a TV: Copa do Brasil na Band e Libertadores na Globo.
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