12.9.10

O cinema da delicadeza

Meu filme brasileiro favorito é Central do Brasil.

Eu o assisti pela primeira vez quando morava nos EUA. Estava sozinho no cinema em uma tarde gelada. Entrei na sessão em meio a ruas quase vazias de um domingo cinzento.

Na cena em que Dora (a personagem de Fernanda Montenegro) diz para Josué que um dia ele irá esquecê-la e não importa o quanto ele lute contra isso, eu chorei bastante. Certamente por me identificar com a história, pois são muitas as pessoas que foram tão importantes na minha e que provavelmente jamais as encontrarei novamente. Ficarão comigo somente nas lembranças, nas fotos.

E não importa quantas vezes eu veja o filme, sempre que chega os instantes finais, me emociono.

Também adoro os filmes Linha de Passe, Terra Estrangeira, O Primeiro Dia, e Os Diários de Motocicleta.

Por isso, li com entusiasmo o livro "Na Estrada, o cinema de Walter Salles", de Marcos Strecker (ed. Publifolha), que traz uma análise dos filmes de Salles e conta quais foram suas principais influências na carreira. A obra inclui ainda uma seleção de textos escritos por Salles que foram publicados em sua coluna na Folha de São Paulo.



No livro, Strecker escreve que Central do Brasil "traz personagens demarcando sua geografia pessoal. A viagem deles exprime o abandono do espaço urbano degenerado, uma fuga para o interior, para o campo. Ao deixar o Brasil industrializado, fracassado pela violência e pelo afeto desaparecido, os personagens tentam retornar ao passado mítico do interior do nordeste. (...) É um retorno às origens, à procura das raízes, em busca da inocência perdida. (...) [É a] história de alguém que recupera a visão, que começa a perceber o outro".

Central do Brasil me fez tornar um fã do cinema humanista de Walter Salles. Ou como diz Marcos Strecker, o "cinema da delicadeza".

Uma das sementes que despertou em Walter Salles a vontade de fazer Central do Brasil foi o documentário em curta-metragem chamado Socorro Nobre, por ele dirigido e lançado em 1995. A obra aborda a troca de cartas entre o artista plástico polonês Frans Krajcberg e a presidiária Maria do Socorro Nobre.

E, fuçando pelo Youtube, descobri Socorro Nobre, outra bela história contada por este fantástico cineasta.





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