29.9.10

Coluna Gastrô - Jornal O Tempo - 24.09.2010


“Fashion-food”


Li no jornal O Estado de São Paulo de 19 de setembro de 2010 que a nova tendência (como eu odeio essa palavra!) do mundo da moda é a “fast fashion”. O termo, que remete ao “fast food”, significa, segundo a reportagem, “uma moda que dura pouco, principalmente na vitrine. A loja se abastece de novidades semanalmente. Trabalham com estoque pequeno e muita diversidade de modelos, criando a sensação de que você precisa comprar a roupa já, porque ela vai acabar”.


Não entendo bulhufas de moda. E confesso que não pretendo entender. Prefiro vestir o que me faz sentir bem ao invés do que é ditado por revistas e especialistas. Mas me divirto ao caminhar pelas ruas e perceber pessoas usando vestidos parecidos ou acessórios idênticos. Recordo que houve a época em que toda mulher parecia usar vestidos de um ombro só. Ou o ano em que o “must” era o cinto de franjinhas. Ou os leves vestidos florais de uma personagem de novela. E até as horrorosas botinas com saltos altos e grossos.


Pois bem, passeando pela cidade, percebo acontecer uma situação semelhante no ramo de gastronomia. Ano após ano, há sempre casas com cardápios praticamente iguais que pipocam por tudo que é esquina. Daí, pensei: por que não batizar tais locais (ou as comidas que estes servem) de “fashion food”? Acho o termo bastante adequado para definir os produtos que, querendo ou não, se transformam em modismo. Um exemplo perfeito é o temaki. Ou, mais recentemente, o frozen yogurt.


Antes de relembrar alguns dos (ou seria das?) “fashion foods” de Beagá nos últimos anos, gostaria de enaltecer que, com o passar do tempo, estes estabelecimentos podem deixar de ser “tendências” e se tornarem “realidades”. Mas antes é preciso enfrentar as águas turbulentas dos primeiros anos e suportar o tempo necessário até a estabilização natural do mercado.


Um exemplo de um “modismo” que surgiu na cidade e hoje se encontra “estável” (estável aqui significando que não é aberta uma nova casa a cada bimestre) foi a pizzaria “gourmet”. Ou seja, aquelas cujos cardápios fogem de sabores esquisitos e abrasileirados como frango à bolonhesa e/ou califórnia para oferecer ingredientes diferenciados, como alcachofra, mussarela de búfala, tomate pelati, alichi importado, presunto cru, etc. Recordo que, em pouco tempo, foram inaugurados: Artesanato da Pizza, Il Basílico, Piu Pizza, Caprese, Marília, Specialli, e outras. Algumas sobreviveram, outras não. O mesmo fenômeno aconteceu com as casas de empadas: Empada Mineira, Empada’s, Rancho da Empada, Empada Caipira, Empada Brasil, Galeria da Empada, etc.


É inviável haver tantos estabelecimentos especializados em um mesmo produto dentro de um raio de pouquíssimos quilômetros. No ano passado, contei seis temakerias em um trecho de quatro quarteirões na Savassi. Agora o mercado começa a se saturar com as casas de frozen yogurt (aliás, por que não batizá-lo com um nome em português?). Nos últimos meses, foram abertos: Yoggi, Yogoberry, YoggoMio, Yogen Fruz, e Is Frozen Yogurt. Quais sobreviverão? Só o tempo dirá.


Pena que outras casas que seriam tão bem vindas em Beagá ainda não viraram “fashion foods”, como as pizzarias tradicionais de São Paulo, as costelarias do interior paulista, as galeterias do sul do Brasil, ou restaurantes especializados em cordeiro, em pato, ou comida eslava. Quem sabe não apareça alguém que, ao invés de abrir mais um estabelecimento de “fashion food”, não prefira investir em algo “original”. Ou então que seja “original” até que o vizinho o copie.



Temaki, uma típica "fashion food"


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