3.9.09

"Venda a casa"

Um livro bastante divertido que li no começo de 2009 foi "Conversas com Woody Allen", de Eric Lax (Ed. Cosac Naif).



Nele, através de um agradável bate papo informal com o autor, Woody Allen revela as diversas etapas de um filme, como o surgimento da idéias para o roteiro, o ato de escrever, a escolha dos atores, o que acontece durante as filmagens, o ato de dirigir, a montagem, e a escolha da trilha sonora.

Através de inúmeros exemplos de filmes feitos ao longo de mais de três décadas de carreira, aprendemos com Woody como funciona sua cabeça através de reflexões e declarações sinceras e curiosas.

Dentre os vários trechos divertidos do livro, destaco um deles abaixo:

Depois de ter filmado "Interiores", Woody Allen decidiu comprar uma casa nos Hamptons [vizinhança rica de praia perto de NY].

“Eu estava nos Hamptons no auge do inverno, janeiro, e o lugar estava vazio, frio, as praias desoladas e cinzentas, e foi ótimo para mim. Adorei. Então pensei comigo: nossa, eu poderia comprar para mim uma casa aqui, perto do mar, e ficar só olhando o mar e ouvindo as ondas. É perfeito para a minha personalidade. (...) [A casa] era grande, ótima, e trabalhei muito nela. Contratei operários e arquitetos e deixei a casa incrivelmente bonita – estou falando de jardins, árvores, tudo. (...) mobiliei lindamente.(...) E depois de um ano de trabalho, fui e passei minha primeira noite nela. E aí pensei: Ei, isto não é para mim. (...) Acho que sou uma criatura do asfalto, do Madison Square Garden, de restaurantes, livrarias – sabe, da rua. O som das ondas me deixou louco. (...) Gosto de levantar de manhã e andar pelas ruas da cidade, e navegar pela cidade, e voltar de noite e ouvir o trânsito lá fora, não ondas quebrando. (...) A criatividade de fazer a casa foi gostosa, porque você precisa escolher cores, a mobília, decorar, reformar – é como trabalhar em um filme. O trabalho é a melhor parte, não o resultado. (...) Então a luz começa a cair e fica escuro, e não dá mesmo para sair da casa, porque está um breu, e se é inverno são sete horas e está preto, um breu para todo lado. E eu pensava: Nossa, se eu estivesse na cidade, poderia ir ao Elaine’s, ao cinema, dar uma volta", conta o cineasta.

“O que você vai fazer se estiver dormindo e aí chegar um carro às três da manhã. O que você vai fazer? (...) A casa é absolutamente acessível, as janelas abertas”. Mia disse: “você é louco? Aqui todo mundo vai dormir e ninguém pensa nisso. Tenho mais medo na cidade”. E talvez a cidade seja mais tensa. Mas não para mim. Sinto que na cidade, mesmo que possa ser estatisticamente mais perigoso, tenho mais opções. Mas lá [na praia] você está frito. (...) Além disso, às sete e meia da noite, não tem nada para fazer. É um tédio absoluto. (...) Na manha seguinte, levantamos, tomamos café da manhã, voltamos de carro para a cidade. Liguei para o meu contador e disse: “venda a casa”", revela Woody Allen.

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