1.4.09

O ofício do repórter

Termino a leitura de "Repórteres", organizado por Audálio Dantas (ed. Senac SP).

A obra reune textos de dez repórteres de renome nacional - como Caco Barcellos, Domingos Meirelles, Joel Silveira, José Hamilton Ribeiro, e Ricardo Kotscho -, que relatam suas experiências profissionais.




Durante a leitura, percebi que os autores têm algo em comum: todos prezam que uma boa reportagem é escrita na rua, sujando os sapatos. Além disso, a maioria enaltece que uma matéria bem escrita precisa ter um quê de literatura (evidentemente, sem comprometer a veracidade dos fatos). Ou seja, é preciso ler bastante e, lógico, saber escrever. Ter esses dois pré-requisitados é coisa rara na turma que sai da faculdade nos dias de hoje.


Apesar de não ter gostado muito do livro, recomendo-o basicamente pelos textos de Joel Silveira e José Hamilton Ribeiro. Mas se preferir ler obras de jornalismo realmente imperdíveis, sugiro a Coleção Jornalismo Literário, lançada pela Companhia das Letras, como Fama e Anonimato, de Gay Talese; Hiroshima, de John Hersey; A Sangue Frio, de Truman Capote; e outros.


Voltando ao livro "Repórteres", segue abaixo alguns trechos por mim grifados sobre o ofício destes profissionais:


De Acácio Ramos: "Repórteres, meu senhor, são pessoas que perguntam;" (pg. 9).


De Audálio Dantas: "Coragem para ver é uma das exigências do ofício de repórter. A esta deve-se acrescer outra igualmente importante - a coragem de contar o que se vê." (pg. 20).


De Carlos Wagner: "A gente vai seguindo pela estrada coletando ensinamentos aqui ali e aqui. Aprende-se muita bobagem. Mas também se encontra a sabedoria. Como o conselho de que se deve lapidar e fazer crescer o sentimento natural de desconfiança até torná-lo um instrumento de trabalho. E que é necessário domesticar a arrogância de pensar que se sabe de tudo. Ela é inimiga da boa investigação jornalística.". (pg. 55)


Frase de Jorge Claúdio Ribeiro citada por José Hamilton Ribeiro: "Repórter é o jornalista que consegue captar o tempo da alma". (pg. 109).


De José Hamilton Ribeiro: "Uma condicionante da personalidade do repórter é um certo "espírito cooperativo", uma vontade de compartir, de compartilhar, de passar logo à frente, de contar o que sabe. Não é a melhor pessoa a quem confiar um segredo. Mas sua maior condicionante espiritual é a curiosidade, aquela compulsão de saber mais e de saber primeiro, para poder espalhar.". (pg 112).


Texto de Régis Debray citado por Ricardo Kotscho na pg. 185: "Antigamente, quando você chegava com uma novidade a um diretor de jornal, ele piscava os olhinhos, esfregava as mãos e dizia, entusiasmado: "Ótimo, ótimo, vamos publicar já! Ninguém está falando nisso!". Mas hoje, quando se chega a um diretor de jornal com uma novidade, ele faz um muxoxo de desprezo e diz: "Isso não vai dar. Não interessa. Ninguém está falando nisso."

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