9.12.08

Mi Buenos Aires Querido - Parte 3 de 3

Sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Após o café da manhã, seguimos a pé do hotel até a estação Callao do metrô. No caminho, passamos pelas lindas Plaza Vicente López (Calle Arenales com Calle Montevideo) e Plaza Rodríguez Pena (Avenida Callao com Calle Paraguay). De subte, fomos até a estação Plaza Itália. Conhecemos então o Jardim Botânico Carlos Thays (fiquei um pouco decepcionado. Talvez a frustração se deva por conhecer jardins botânicos maravilhosos, como é o caso do que existe no Rio de Janeiro).

Plaza Rodríguez Peña

Nossa caminhada matinal foi pelas ruas de Palermo. Seguimos pela Calle Serrano admirando os prédios antigos e observando os locais (nada de turistas brasileiros por aqui) em sua rotina. Ao chegarmos na esquina da Serrano, viramos à direita na Calle El Salvador e encontramos um simpático café para fazer o primeiro pit stop: o La Salamandra.

Caso não saiba, o La Salamandra é o nome de um dulce de leche argentino que é aclamado como um dos melhores do mundo (eu pessoalmente também amo de paixão o nosso doce de leite Viçosa). O café La Salamandra é uma loja que representa a marca do dulce de leche. Além de servir o dulce de leche em inúmeras receitas, o lugar é aconchegante (amei os vasos com laranjinhas kinkãs da decoração) e possui um gostoso cardápio de saladas, sanduíches, e quiches. O Café La Salamandra (http://www.salamandra.com.ar/) fica na Calle El Salvador, 4761.

Café La Salamandra

Gostaria de abrir um parêntesis para comentar sobre as bebidas e seus respectivos preços na Argentina. Um cafezinho expresso custa 6 pesos. É um pouco (ou bem) mais caro que no Brasil por ter valor agregado. Todo expresso vem acompanhado com uma dose de água com gás (para limpar o paladar) e algum mimo doce como petit four, biscoitinho, um mini doce, ou algo semelhante. Por exemplo, no La Salamandra, o expresso era acompanhado de uma colher com um bocado de dulce de leche. Já os refrigerantes (batizados “gaseosos”) custam cerca de 8 pesos. Cerveza (como a famosa Quilmes) é também 8 pesos. Água é 5 ou 6 pesos. Devido a estes preços, o que eu geralmente fiz durante a estadia em Buenos Aires foi beber “vino”. Este custa entre 9 e 15 pesos o “copo” (lembre-se que “copo” é taça, e “taza” é copo), dependendo do rótulo. Concluindo; senti falta de entrar nos elegantes cafés e ver os garçons servindo os clientes com café de coador dentro de bules de prata. Caso deseje passar horas em um café lendo algum livro ou olhando para o teto, recomendo então pedir um bule de chá (que, conforme o costume inglês, pode ser bebido com uma pingada de leite quente). O preço do bule de chá costuma ser o mesmo do expresso, cerca de 6 pesos. Ah, outra coisa: é comum encontrar na Argentina o açúcar servido no simpático formato de cubinhos.

O passeio por Palermo seguiu pelas ruas que circundam a Plaza Cortazar. Lemos os cardápios nas portas dos restaurantes, observamos a intensa vida de rua, admiramos as vitrines das lojas e entramos em alguns estabelecimentos para pescoçar os preços.

A vida de rua de Palermo

Depois de muito bater perna, apanhamos um táxi. Disse a Lorena que gostaria levá-la no raro lugar que lembro de minha viagem a Buenos Aires quando tinha 11 anos de idade: o El Palacio de Las Papas Fritas. Localizado na Avenida Corrientes, 1612, no Centro, é um dos locais clássicos da cidade e existe há mais de meio século. Com garçons com décadas de trabalho na casa, o Palácio de Las Papas Fritas é conhecido por causa de suas papas souffles, uma genial batata frita inflada, que lembra um pastelzinho e é oca por dentro. (Observação: em castellano, “papa” é batata, e “batata” é batata doce). Pedimos então um “asado de tira” (no Brasil, bife de tira ou costela de tira) com uma porção de papas souffle. Enquanto esperávamos, a inhaca do “servicio de mesa” foi um mísero cesto de pães com manteiga. Mas, em compensação, o almoço estava delicioso.

"Asado de tira com papas soufle" do El Palacio de Las Papas Fritas

Mais um parêntesis sobre Buenos Aires. Por todo canto da cidade, há estabelecimentos chamados “locutórios”. Explico: são locais que vendem produtos de maiores necessidades, como cigarro, água, balas, sorvetes, sanduíches plastificados, etc, e que, necessariamente, têm com cabines telefônicas (nem ouse pensar em fazer telefonemas de seu hotel, pois os preços são pra lá de abusivos). Estas podem ser usadas para fazer ligações a cobrar para o exterior (sem custo algum) através da Embratel ou telefonemas locais e internacionais (estes, evidentemente, serão cobrados após a conclusão da chamada). Alguns “locutórios” têm também computadores com acesso à internet.

De barriga cheia, nada pude fazer a não ser pedir arrego e ir para o hotel para merecida “siesta”. Lorena, turista mais profissional do que eu, preferiu seguir para as compras na Calle Florida. Cochilo tirado, caminhei até o Café Tortoni para encontrar minha esposa. Achei o lugar uma versão (bem) piorada da Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro. Aliás, parecia estar de volta ao Brasil tamanha a quantidade de turistas brasileiros. Esforcei para ouvir alguém falando espanhol, mas foi difícil. Até alguns dos garçons eram compatriotas. Sei que o Tortoni é idolatrado por causa de seu ano de fundação: 1858. Mas achei o lugar antigo e não imponente como pensara ser. O papel de parede era desbotado, e a iluminação proveniente de lâmpadas fluorescentes. Entretanto valeu conhecê-lo por sua história. Pedimos o clássicos dos clássicos do Tortoni, churro com porção de dulce de leche à parte e, para beber, submarino (leite quente com barrinha de chocolate meio-amargo).



Café Tortoni

Nosso último jantar em Buenos Aires foi na Recova, um conjunto de restaurantes localizado debaixo da Avenida 9 de Julio. Antes disso, conhecemos o lobby do luxuoso hotel Four Seasons. Na Recova, inspecionamos o cardápio de todos os restaurantes e optamos por um de cozinha italiana que se chama Sorrento. (Parêntesis para observação: Lorena e eu chegamos à conclusão que os portenhos têm a mania de colocar perfume em excesso - geralmente algo doce, como baunilha ou cravo - nos banheiros. No Sorrento, o aroma de baunilha dos banheiros era sentido no salão). Sobre o restaurante, ambiente aconchegante para comida mediana. (Mais um parêntesis de observação: assim como acontece nos Estados Unidos, na Argentina as gorjetas pagas aos garçons através de cartões de créditos são adicionadas somente depois de receber o comprovante. Explico: chega a conta de, digamos, 100 pesos. Você entrega o cartão e o garçom o passa na maquina no valor de 100 pesos. Depois, com o comprovante em mãos, você escreve com caneta o valor adicional da gorjeta, digamos 10 pesos, debaixo dos 100 pesos. Soma-se os dois valores, ou seja, 110 pesos e assina. O garçom então, minutos depois, com você já longe do restaurante retorna à maquina do cartão e adiciona os 10 dólares adicionais. No Brasil, este sistema não daria certo, pois estaria sujeito à fraude.


Sábado, 18 de outubro de 2008

De malas feitas e guardadas numa saleta do hotel (o check out só poderia ser feito até, no máximo, 10h), fomos caminhar pela região do Puerto Madero. Pedimos ao taxista para nos deixar em frente ao Hotel Faena, projetado pelo renomado arquiteto Philippe Starck. Achei o local meio psicodélico. Do lado de fora, lindo, com paredes de tijolinhos e hall com vasos gigantes com beijinhos vermelhos. No lobby, música meio transcendental. Caminhando pelo interior do hotel, havia ambientes luxuosos misturados com salões todo em cor branca ou decorado com motivos africanos. Sem a menor dúvida vale muito a pena conhecê-lo, mas não sei se o escolheria para ficar hospedado mesmo se fosse milionário (afinal a diária lá é cerca de 1000 dólares por casal).


Hotel Faena


Caminhamos do Hotel Faena até o Hotel Hilton boquiabertos com as diferenças da região de Puerto Madero para o restante de Buenos Aires. Enquanto outros bairros (como Palermo) parecia Europa, esta vizinhança é Estados Unidos. Havia prédios altíssimos, com mais de 40 andares, com janelas espelhadas e portarias vigiadas por câmeras de segurança. Ao chegar ao Hilton, dei uma rápida olhada no lobby (ali foi filmado o ótimo filme Nove Rainhas) antes de seguir para os galpões onde estão os restaurantes de Puerto Madero.

Região de Puerto Madero


Depois de muito caminhar olhando lojas, tirando fotos, e analisando cardápios, escolhemos almoçar no restaurante El Caballeriza (que possui filial em SP). Pedimos costela de tira, batatas, e chimichurri. Depois, para fechar a viagem, fomos tomar sorvete dulce de leche tentación no Freddo.


Sorvete Dulce de Leche Tentación com chocolate do Freddo

Retornamos então ao hotel para sermos apanhados pela turma da CVC às 14h. Chiei muito o horário combinado, pois nosso vôo só partiria às 18h30min. Os babacas da CVC, com resposta ensaiada, diziam que era por causa do trânsito. Bem, digo o seguinte: dava até deitar na rodovia tamanha a quantidade de carros que nela circulava. Como imaginei, em vinte e poucos minutos já estávamos no aeroporto. Antes de lá chegar, peça ao motorista para lhe mostrar o centro de treinamento da seleção da Argentina, que fica às margens da rodovia que liga o centro de Buenos Aires ao aeroporto (antes o do Brasil fosse assim, ao lado de uma rodovia, para ser observado por todos que ali passam).

Dentro da van que nos levou até o aeroporto havia um casal em lua-de-mel. Começamos a papear e eles nos contaram que seguiriam para Foz do Iguaçu. Bem, meu caro leitor, se você conhece o mapa da América do Sul, deve saber aonde fica este destino, certo? O casal pelo jeito não sabia, pois iriam até São Paulo, para depois irem à Foz do Iguaçu, aonde chegariam somente no começo na manhã do dia seguinte. Eu, ao indagá-los o porquê deste trajeto absurdo, eles responderam na maior tranqüilidade que foi a CVC quem organizou tudo. “Ué, mas por que não ir até Porto Alegre e de lá apanhar um vôo para Foz?”. “Eles [a CVC] disseram que só operam por São Paulo”, foi a resposta. Fiquei tão irritado com a ignorância de ambas as partes que preferi ficar calado.

Após fazermos o check in e rodarmos algumas lojas no saguão principal, entramos para a área de embarque por volta das 16h. Foi quando aconteceu uma tremenda de uma sacanagem por parte da TAM. Assim que estávamos prestes a entrar no free shop, um funcionário da empresa passou gritando: “passageiros para Belo Horizonte! Passageiros para Belo Horizonte, favor apresentar-se”. Bem, apresentei-me.

Ele disse que eu teria que seguir em um vôo que estava saindo imediatamente para São Paulo e lá esperar pela conexão para Belo Horizonte. Isto porque se quisesse pegar o vôo das 18h30min para Belo Horizonte (que tem escala em São Paulo) arriscaria não chegar hoje ao destino final. Infelizmente, fui obrigado a esquecer o free shop e seguir naquele vôo. Mais tarde, quando cheguei em São Paulo, descobri que aquilo que o funcionário havia dito era mentira. O vôo para Belo Horizonte saiu no horário normal de Buenos Aires. O que eles queriam era, na verdade, lotar o vôo das 16h para encaixar mais passageiros no próximo avião. Assim, fui obrigado a esperar por mais de três horas na área internacional de São Paulo (que é uma porcaria) pelo avião que estava vindo de Buenos Aires (o meu vôo de 18h30min) que, depois de parar na capital paulista, seguiria então para Beagá. Pôde tamanha desonestidade e confusão?

Mas apesar desse percalço final, a lembrança que ficará em minha memória será a dos dias maravilhosos que passei com minha esposa durante a nossa lua-de-mel em Buenos Aires.
Obelisco da Avenida 9 de Julio

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