27.11.08

Mi Buenos Aires Querido - parte 2 de 3

Quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Depois do café da manhã, minha esposa e eu saímos para caminhar. Do Hotel Dazzler Libertad, localizado na Plaza Libertad, subimos a Avenida 9 de Julio e viramos na Calle Alvear para admirar as belíssimas embaixadas francesa e brasileira (bastante classuda e imponente. Certamente, eu moraria por lá sem pestanejar). Seguindo adiante, percebi que toda a fiação elétrica de Buenos Aires é subterrânea. Com isso, as ruas parecem limpas e as fotos ficam mais bonitas (enquanto isso, em Beagá, a hipócrita da Cemig faz propaganda dizendo que 98% do acidentes com queda de energia é devido a causas naturais (chuva, etc). Evidentemente, se a fiação fosse subterrânea, a quantidade de blackout seria bem menor, certo? Por que não começar, de pouco em pouco, a mudar os postes para fiação subterrânea. Outros pontos negativos da Cemig: não faz a menor questão de diminuir a quantidade de chuveiros elétricos na capital mineira (em São Paulo, já é obrigatório por lei que todos os novos prédios tenham aquecedores. Mas na roça (Beagá), ainda predominam os mesmos chuveiros elétricos que são proibidos por lei na Europa). Além disso, a capital mineira é uma das cidades cuja iluminação pública é das mais escuras do país. Para comprovar isto, basta caminhar por um dos principais pontos turísticos da cidade, a Praça da Liberdade, à noite. Àqueles que são de fora, certamente teriam medo tamanho o breu do local).

A embaixada francesa

A embaixada brasileira

Calle Alvear

Continuando o passeio, observei o quanto as hermanas são elegantes (e belas). Com olhos claros, cabelos pretos e lisos, e maquiagem discreta, é comum encontrá-las sempre bem vestidas. Gostam de usar botas e jaquetas de couro, cachecóis, e até chapéus (uma raridade nos dias de hoje). Também notei que muitos dos prédios (principalmente aqueles em áreas mais nobres) possuem escritos em sua fachada os nomes dos arquitetos responsáveis pela obra.

A elegância das hermanas

Nossa primeira parada foi o estonteantemente maravilhoso Hotel Alvear. Em minha opinião, este é ainda mais bonito e charmoso que o nosso Copacabana Palace. Estufei o peito e evitei trocar olhares com os funcionários. Assim, quem sabe, conseguiria me passar por um dos hospedes do hotel. Circulei pelas áreas comuns do hotel (lobby, salão de chá, etc) e aproveitei para reservar uma mesa para o chá da tarde no dia seguinte. Antes de ir embora, fiquei babando diante uma lindíssima cafeteira dourada que existia no salão de café.

Interior do Hotel Alvear


A máquina de café do Alvear

A caminhada continuou pela Calle Alvear até encontrarmos uma gigantesca árvore centenária. Ali, tiramos algumas fotos antes de seguir até o shopping de Design que minha esposa queria visitar. Depois, entramos no famoso Cemitério de Recoleta. Fiquei decepcionado. Esperava que fosse como aqueles belos cemitérios americanos que assistimos em filmes, com muita área verde e árvores. Nada disso. Apenas túmulos e mausoléus cheios de fru fru bem pertinhos uns dos outros. Do lado de fora, um filme estava sendo rodado. Abro aqui um parêntesis para dizer que o quanto é ótimo a maioria dos filmes argentinos. Diferentemente do que acontece em muitos filmes brasileiros, por lá, os roteiros são muito bem escritos e trabalhados. Só para citar alguns, recomendo as seguintes películas: Nove Rainhas, O Filho da Noiva, Clube da Lua, Histórias Mínimas, Lugares Comuns, Valentim, e Família Rodante.

Árvores centenárias

Depois do cemitério, apanhamos um ônibus em direção a Palermo. Não havia trocador e, por isso, ficamos um pouco perdido. Era preciso que o valor da passagem estivesse certinho e que fosse pago (na verdade, depositado dentro de uma espécie de urna) com moedas. Sem entender nada, fomos felizmente socorridos por um local que nos ajudou com alguns centavos. Minha esposa fez cara feia por termos que passar por aquilo. Eu, ao contrário, me diverti.
Tíquete do ônibus em Buenos Aires

Descemos do ônibus e subimos a calle Republica Árabe Síria atrás do restaurante Bella Itália. Este foi uma indicação do colega Léo Noronha, do jornal O Tempo, que dissera ser um lugar que o fez lembrar da Casa Bonomi (um dos meus pontos favoritos de Beagá). No caminho, deparamos com uma maravilha: uma pequena lojinha que exalada um aroma encantador de empanadas. Paramos para averiguar e pedimos algumas delas para provar. Foi sem a menor sombra de dúvida a melhor empanada que comi em minha vida. Anote aí o nome (que, por si só, justifica uma ida a Buenos Aires): Guimpi V, localizado na Calle Republica Árabe Síria, 3004, no Barrio Norte.

Cardápio do Guimpi V

Chegamos ao Bella Vita (http://www.bellaitalia-gourmet.com.ar/). Adoramos! O lugar realmente lembra a padaria Bonomi e possui ótimos pratos, como saladas, sanduíches, e massas, com ótimos preços. É também bastante aconchegante e possui ótimos pães, quiches, e sobremesas. Uma observação: o Bella Vita aceita somente efectivo (ou seja, dinheiro vivo). Após o almoço, disse a minha esposa que somente me aquietaria depois de comer uma torta Rogel (fala-se Rourrel). Uma de minhas favoritas. esta é uma iguaria uruguaia (no Brasil é encontrada no Café Havana, em São Paulo), e é uma espécie de mil folhas (só que a massa não é folhada, mas sim uma espécie de biscoito fino) com camadas de doce de leite argentino. Encontramos a torta num café de rua. Saboreei a torta lentamente antes de seguirmos até o Malba, um museu de arte contemporânea.

Bella Itália

Ao sairmos do museu, o sol começou a mostrar sua cara. Até este instante, os dias haviam sido lindos (ou seja, nuvens escuras no céu, chuva fina, e friozinho). Estou falando sério! Sou como o Woody Allen; prefiro dias nublados e chuvosos. Cansados de tanto caminhar, retornamos para o hotel.

No fim da tarde, fui para um café ler um pouco (o livro era o ótimo Código da Vida, de Saullo Ramos). No caminho até lá fiquei boquiaberto com a rica vida de rua em Buenos Aires. Explico: lá é possível telefonar para um café e pedir para funcionários entregarem bebidas como cappuccino ou chá em seu escritório. Por conta disso, por volta das 17h, há um monte de pessoas circulando pelo centro carregando cafés em bandejas (muitas bebidas ficam destampadas). É algo bem surreal. Outra coisa que observei foi que ao ir em um supermercado, não é necessário carregar suas comprar de volta para casa. Existem funcionários que fazem isto por você. Assim, é comum encontrar empregados de supermercados circulando pelas ruas carregando caixas de supermercado ou empurrando as compras empilhadas em um carrinho.


Garçons no meio da rua


Entregadores de compras de supermercado

Dentro do café, pedi um café com leche e tostadas (duas fatias torradas de pão francês) com porção de queso blanco (uma espécie de pasta de queijo minas), e outra de dulce de leche (na Argentina, o dulce de leche é comida com pão. E, por sinal, é uma delícia).

Às oito da noite, fomos apanhados por um ônibus para irmos jantar e assistir a um show de Tango no Esquina Carlos Gardel. Dentre as inúmeras opções de show que existem em Buenos Aires, optei por este por parecer ser o melhor em termos de comida. Depois de apanhar um mundarel de brasileiros em diversos hotéis da cidade, chegamos a casa de shows. Bonita e bem estruturada, funciona dentro de um antigo teatro. Fomos encaminhados à nossa mesa (sentamos, adivinhe, ao lado de brasileiros). Fomos então servidos de vinho tinto, água, e couvert (tudo já estava incluso no pacote que pagamos junto do hotel). Em seguida, fomos apresentados ao cardápio. Podíamos escolher uma entrada (dentre carpaccio, empanadas, sopa, e caranguejo com guacamole). Pedi este último. Estava apenas na média. Como prato principal, optei pelo bife de chorizo com batatas (havia ainda opção de massa, salmão, e frango com molho de limão). De sobremesa, pedi um torta com doce de leite e amoras. No final das contas, o jantar foi bom. Lá pelas dez e tantas da noite, começou o show de tango. No inicio é tudo muito bonito e profissional. Com o passar do tempo, comecei a olhar para o relógio e a criticar a falta de sensualidade de algumas dançarinas. Lá pela meia-noite, já estava implorando para o show terminar de tão cansado que estava. Porém, este só acabou era quase lá pela meia-noite e meia. Chegamos ao hotel estribuchados por volta de uma e pouco da manhã.





Show de tango no Esquina Carlos Gardel

Quinta-feira, 16 de outubro de 2008.

Começamos o dia caminhando até a estação de metrô mais próxima. Na Plaza La Valle, aonde está a estação Tribunales, quase desmaiei ao ver a quantidade de cachorros que havia no local. Para quem não sabe, uma das características de Buenos Aires é os famosos “paseadores” de cachorros (perros?). por tudo que é canto que se olha, vê-se jovens levando dez, quinze cachorros de uma só vez para passear. Impressionante (e imagino a trabalheira que deve ser desfazer os nós das coleiras quando estas se entrelaçam). E pelo jeito, parece que Plaza La Valle é o point de concentração dos paseadores de cachorros. Fora de brincadeira, devia haver mais de duzentos deles. Alguns dentro de um cercadinho da praça, outros soltos, e terceiros amarrados em cercas e postes. O meu amigo PG, que tem pavor de cachorros, desmaiaria ao ver a quantidade que havia ali. E o incrível é que todos convivem (ou pelo menos, parecem conviver) em total harmonia.

"Passeadores" de cachorros




Plaza La Valle


Haja nós

Fomos de metrô até a estação Belgrano. Ali descemos e caminhamos pelas ruas de San Telmo, um dos mais antigos bairros da cidade e conhecido por conta dos inúmeros antiquários ali existentes. Fomos também a Plaza Dorrego, a mais famosa do bairro. Cercada por cafés, restaurantes e lojinhas, ali aocntece, aos domingos, a famosa feira de San Telmo. Ainda assim, nos demais dias da semana, vale a pena visitar o local. É bastante animado, com apresentações de tango para os turistas, e ambulantes vendendo bugigangas.

Plaza Dorrego em San Telmo

Apanhamos um táxi e pedimos para nos deixar no Museo de La Pssion Boquense, ou seja, o museu do time de futebol Boca Juniors. Depois de desembolsar 25 pesos para conhecê-lo (bem caro, não?), seguimos por corredores que através de fotos e painéis explicativos conta a história do time. Havia camisas expostas, alguns taças (inclusive a da Libertadores, que, por sinal, já até beijei quando esta fora exposta em Beagá após a conquista do Cruzeiro em 1997). Em seguida, visitamos uma das arquibancadas do estádio la Bombonera. Com exceção da visita ao estádio em si, não achei que o passeio valeu a pena. O melhor mesmo seria conhecer o lugar em dia de jogo.

Estádio La Bombonera
Ao sair do museu, apanhamos um @#$!@%& de um taxista malandro. Pedimos a ele para nos levar até a Plaza da Constituition, onde estava a estação de metrô mais próxima. Ele falou falou, disse que era um expert com os turistas, que os adorava, bla bla bla. Então deu o bote, perguntou onde queríamos ir. Repeti: Plaza Constituition. Ele perguntou “por quê?”. Abri o jogo e disse que para apanhar o metrô. Ele perguntou onde queria ir. Disse: quero passear de metro. O taxista disse que seria mais barato nos levar até nosso destino final (que, por sinal, era do outro lado da cidade). Agradeci e disse não obrigado. Nessa hora, minha esposa fez cara feia. Disse que talvez o taxista estivesse certo. Mas não estava. Queria apenas nos explorar e tirar um dinheirinho extra. Depois de tentar ser gentil, preferi bater o pé, cortei o papo, e disse para nos deixar na Plaza Constituition.

Apanhamos o “subte” na Constituion (uma antiga e lindíssima estação de trem). Descemos na estação General San Martín, onde está a mais linda praça de Buenos Aires. Dali, caminhamos pelo em direção ao aclamado El Sanjuanino cujas empanadas são consideradas pelos críticos como a melhor da cidade. No trajeto, aproveitamos para conhecer alguns dos hotéis mais luxuosos da capital portenha, como o Marriott, na Plaza San Martín; e o Sofitel, na Calle Arroyo (cujo café que vale a pena um pit stop). Em seguida, conhecemos o local batizado de Recova: uma série de bons restaurantes, um ao lado do outro, que fica debaixo da Avenida 9 de Julio. Vale a pena conhecer a Recova e dedicar uma das refeições a este local (ou, então, pelo menos um café com alfajor no Café Havana que ali existe). Seguimos o passeio pela Calle Posadas e passamos em frente a outros hotéis que desejo me hospedar no futuro: Four Seasons, Caesar Park, e Park Hyatt. Recomendo ao viajante que pelo menos conheça o lobby desses hotéis ou, quem sabe, vá a estes para um chá da tarde ou café da manhã.

Ao chegar no El Sanjuanino, conseguimos uma mesa no porão do restaurante, lugar com ambiente de muita personalidade. Pedimos, claro, algumas empanadas. Ao lado de nossa mesa, um casal de brasileiros pediu uma “taça” de vinho. O garçom, seguindo a requisição, trouxe o vinho dentro de um copo. Os dois o chamaram e pediram para trocar o copo por uma taça. O coitado do funcionário nada entendia. Explico: em espanhol, taça é copo, e copo é taça. Bem, voltamos às empanadas. Depois de saboreá-las, tive a certeza que as do El Sanjuanino não chegavam nem aos dedinhos do pé daquelas que degustei no dia anterior (as do Guimpi V, na Calle Republico Árabe Síria, no Barrio Norte). Fui embora dali um pouco decepcionado. Seguimos então para o shopping Pátio Bullrich. O local é chiquérrimo e possui inúmeras lojas de grife, cujas funcionárias não irão assustar se você tirar da carteira um Amex preto (para quem não sabe, o cartão American Express preto tem o limite acima de um milhão de dólares). Fomos à excelente praça de alimentação e lá complementamos nosso pré-almoço de empanadas com salada e um pedaço carne com chimichurri.

Depois de retornarmos ao hotel para a siesta, saímos por volta das 16h30min para o chá da tarde no hotel Alvear. Foi, sem dúvida, um dos pontos altos da viagem. Ao preço de 85 pesos (ou 95, se desejar também uma taça de kir royal), o casal tem a oportunidade de se sentir parte da nobreza portenha. O lugar é luxuosíssimo e as dondocas se enfeitam com ouro e diamantes para tomar chá, comer petit four, brioches, geléias, e doces, e outras delícias mil. Em determinado momento, fui ao banheiro. Recomendo que o visite. A qualidade do papel para secar as mãos era tamanha (mais parecia um guardanapo de festa de ricaço), que até coloquei um exemplar no bolso para levar de volta ao Brasil comigo e mostrar às pessoas. No banheiro, havia até aquele senhor que a gente vê em filmes de época e é encarregado de limpar a caspa do paletó com escova. Do lado dele, tinha uma caixinha de gorjetas, aonde deixei dois pesos (aliás, enquanto no Brasil ainda existem ascensoristas de elevador, na Argentina ainda se encontra os “supervisores” de banheiros, que o entregam um papel para enxugar as mãos). Voltei à mesa. No fim do chá, fomos ainda agraciados com um carrinho de pâtisserie, de onde poderíamos escolher o doce que melhor nos apetecesse. Ah, e antes de ir embora, uma garçonete ainda nos trouxe uma compota de vidro para escolhermos entre trufas pretas e brancas. Claro, provei das duas.

Chá da tarde do Hotel Alvear

O jantar deste terceiro dia de viagem também ficará para sempre gravado em minha memória como um dos melhores momentos em Buenos Aires. Segui a dica de meu amigo Morgan e fui ao La Cabrera (Calle Cabrera, 5127. www.parrillalacabrera.com.ar), uma casa de carnes em Palermo Viejo. Havia fila na porta e esperamos quase uma hora pela mesa. Mas o incrível é que o restaurante oferece àqueles que esperam pela mesa, como cortesia da casa, taças de espumante, pedacinhos de carne grelhada, e linguicinhas. Depois de assentarmos, pedimos a recomendação de Morgan: o bife “mariposa”, ou seja, acredito, um bife de chorizo aberto ao meio para ficar parecido como uma borboleta. Desta vez, o tal do “servicio de mesa” valeu a pena. E muito. Fomos servidos de inúmeros patês, cebolinhas grelhadas, pães, etc. Quando chegou o bife mariposa, fomos ainda servidos de inúmeros outros acompanhamentos que são inclusos no pedido. Havia maçã assada, purês, lentilhas, molhos, e outras maravilhas. No final da refeição, na mesa ao lado, um solitário e jovem turistas, havia pedido determinado corte de carne. Veio um bifão de uns 800 gramas, imagino. Vi que ele queria tirar uma foto do desafio que estaria prestes a enfrentar. Fiz questão de ir até sua mesa, cumprimentá-lo, e ofereci a ele tirar a foto. Ele riu e aceitou. A conta do La Cabrera, para o casal, com vinho, foi de R$ 94,00. (R$ 67,00). Valia o dobro.

3 comentários:

Unknown disse...

Vixi! Isso é que é contar uma viagem de cabo a rabo! É mais um diário que tudo! Mas me contento em ver que está escrevendo (o que adora fazer) e principalmente, dando sempre dicas boas para aqueles que acompanham suas colunas e suas escritas pelo blog. O que é bom é para ser divulgado (e o que não é, também)! Beijos, Lô

Anônimo disse...

Grande Rusty,
Blz. depois manda um resumo dos melhores lugares pra visitar.
Agora tirando o detefon na cabeça , teve mais algum tipo gozação dos manés?
Abç
Leo Z

Anônimo disse...

Fui a BA ano passado e hoje viajei novamente com vc... Jantei no La Cabrera 2 vezes, bom demais.Estava lendo seu blog e comendo um alfajor Havana, meu filho e neto chegaram ontem de lá.Abraço Maria Celina