Vamos "piqueniquear"?
Uma das memórias mais antigas que tenho é a de um piquenique feito em uma escadaria na Avenida Bento Simão, no bairro São Bento. Na época eu devia ter cinco ou seis anos de idade. Lembro que estava junto dos meus irmãos Ralph e Ricky e das empregadas Vera e Mira, que cuidavam da gente. Eram férias escolares. A escadaria que existe até hoje era imensa. "A maior de todos os planetas", devia dizer com empolgação que é única na infância. Confesso não recordar o cardápio do piquenique. Apenas que, no caminho de volta para casa, apanhávamos talos ocos de mamona para servir de canudinho e fazer bolhas de sabão em água misturada com detergente.
O próximo piquenique da minha vida só foi acontecer quando tinha dezessete anos de idade e morava no Canadá. Na tarde seguinte ao dia de Ação de Graças, que lá acontece em outubro e não em novembro como nos Estados Unidos, minha família canadense juntou os restos de peru, de salada de batata, além de pães, geléias e suco, para irmos a um parque que ficava nos arredores da cidade. Anos depois, quando morei nos Estados Unidos, também participei de outros dois ou três piqueniques. De volta ao Brasil, lembro que em uma viagem que fiz à Curitiba, vi famílias "piqueniqueando" no parque que circunda o Jardim Botânico da capital paranaense.
Infelizmente, acredito que nós brasileiros não temos a cultura de fazer piquenique. Mas quando digo piquenique, é piquenique mesmo. Estou me referindo àquele programa que inclui cesta de vime, toalha xadrez e um local agradável cercado de verde, e não a uma ida à praia com farofa e frango assado comprado na padaria. Aliás, Cláudio Fornari define em seu "Dicionário-Almanaque de Comes e Bebes" que o piquenique é "uma refeição ao ar livre, sobre a relva, onde as iguarias usuais são sanduíches, empadas, galinha assada fria, croquetes, etc. Programa que as crianças adoram, e as formigas também".
É por este motivo que louvo a iniciativa do Slow Food, através de Marcelo Terça-Nada, líder do convivium Belo Horizonte, em promover um piquenique neste sábado, dia 24 de julho, às 10h, no gramado do Parque Municipal, entre o Teatro Francisco Nunes e o lago dos barquinhos. Ao longo do último mês, Marcelo realizou na sua página do Facebook (Convivium Slow Food Pique-Nique) uma votação para escolher o local do convescote. Entre as indicações, Praça Santa Tereza, Praça JK, Parque Das Mangabeiras, e Parque Municipal, este foi o que recebeu mais votos. Além da página no Facebook, a iniciativa também pode ser acompanhada no Twitter @SlowfoodPicNic.
Mas se você, meu caro(a) leitor(a), não tiver a mínima idéia como se faz um piquenique, sugiro inicialmente acessar o blog Piquenique Perto de Casa e, só para morrer inveja de cestas impecáveis, o da loja inglesa Fortnum & Mason (clique em "Hampers", que significa "cestas" em português).
As deslumbrantes cestas de piquenique da Fortnum & Mason. Foto: divulgação.
Passo a Passo
E agora vamos à prática: primeiro, vá ao mercado central e compre uma cesta de vime. Aproveite e compre também uma toalha, de preferência xadrez, alguns potes de plástico (tupperware), e pratos e copos descartáveis. Caso não queira ir ao mercado de jeito algum, leve sua comida naquelas sacolas de fazer feira de antigamente. Em segundo lugar, pense em algumas receitas gostosas e fáceis de fazer (ou de comprar), como sanduíche de atum, de rosbife com queijo ou de pasta de ovo cozido, batatas bolinha cozidas e misturadas com molho pesto, esfihas fechadas de ricota com uvas-passas e cenoura ralada (as que são vendidas no Vila Árabe são divinas), salada de pêra com gorgonzola e nozes, quiche de cogumelos, fatias de salmão defumado, terrines, bolo inglês, folhados de maçã, e, para a sobremesa, cheesecake com calda de frutas vermelhas. Em terceiro, decida as bebidas. Sucos, refrigerantes ou vinho rose? Em quarto, não se esqueça de levar um saco de lixo bem grande. E por fim, planeje um bom tempo de alongamento antes do piquenique, pois o único empecilho deste programa é o sofrimento nas costas por causa da ausência de apoio ao sentar no chão.
Piquenique no Parque Municipal
Data: sábado, 24 de julho, à partir das 10h.
Local: Gramado entre o Teatro Francisco Nunes e o lago dos barquinhos.
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