3.3.08

Viagens Pelo Brasil - Salvador

Estou em Salvador coletando material para meu próximo livro, que acredito eu, será chamado Caminhos do Sabor – Costa do Sol.



Cheguei à capital baiana na quinta-feira, dia 27 de fevereiro. Voei em vôo TAM pilotado pelo comandante JR. Fiquei com seu nome gravado na cabeça por esse ser uma figuraça. Inicialmente, JR fez questão de cumprimentar pessoalmente os poucos gatos pingados que entraram no avião (devíamos ser, no máximo, uns 25 passageiros). Nas laterais de seu rosto, havia uma costeleta de uns quatro de cumprimento. O piloto mais parecia com um cantor de tango argentino, ou com o Emérson Fittipaldi de fotos quando foi campeão. Em pleno ar, JR cumprimentou a todos com um “Oi gente. E aí, tudo bem com vocês?”. Em seguida fez uma brincadeira que o avião estava chacoalhando não por culpa dele, mas por causa das nuvens “graciosas” que existiam do lado de fora do avião. “É só olhar pela janelinha e verão que estou dizendo a verdade”. Em seguida, o piloto comunicou que ia colocar a cabine em temperatura de 23ºC. Porém, caso alguém sentisse calor ou frio, bastava chamar a aeromoça e reclamar sobre a temperatura, que ele faria algo a respeito. “Caso contrário, relaxem, pois em breve estaremos na terra do acarajé. Tchau gente”.

E assim aterrisei em Salvador (na saída, o comandante JR fez questão de despedir de todos junto a porta do avião).

Na quinta à noite, caiu um toró em Salvador. Em apenas seis horas choveu os mesmos milímetros que costumam cair em um mês. Da janela do hotel, vi as ruas transformadas em rios.

Na sexta-feira mudei para um hotel melhor localizado, o Atlantic Towers, em Ondina. Por volta das onze horas iniciei meu dia. Tive sorte de encontrar uma taxista, avó e super gente boa chamada Lindnalva. Ao contrário do que disse o Paulo Francis sobre os baianos (que são uns chatos por terem ido embora de sua terra só para ficarem cantando que estão com saudade dela), tenho achado-os bem amigáveis.

Lindnalva me guiou até a Ribeira, um bairro um pouco distante da muvuca turística, mas com muita personalidade. Ali conheci a sorveteria da Ribeira, que existe desde 1931.

Sorveteria da Ribeira


Em seguida, fui até a Igreja do Bonfim e consegui a proeza de sair dali sem ter sequer uma fitinha amarrada no meu pulso. Ignorei os muitos que se aproximaram, dizendo “não, obrigado” e virando o rosto. Em horas mais drásticas, quando alguém vinha já com a fitinha em mãos para amarrar em mim, eu fazia cara de psicopata. Deu certo.


Igreja do Bonfim

Seguimos o trajeto (combinei um preciso especial com Lindnalva para que ela me guiasse durante o dia inteiro) até um forte (esqueci o nome) que tinha uma bela vista panorâmica de Salvador. Em seguida, fomos para a Feira de São Joaquim. Este foi um desses lugares que agradeci pela companhia de Lindnalva. Sem ela estaria frito e mal pago. O lugar era meio labiríntico e escuro; e eu, branquinho, de barba feita e com minha câmera imponente, parecia ser o centro das atenções. Ali vi camarões secos, bagulhada usanda em umbanda, feijões, farinhas, pimentas, ovos, e galos e galinhas vendidos vivos para serem usados em rinhas ou macumbas.


Feira de São Joaquim


Dali fui para a sorveteria A Cubana, que fica junto ao Elevador Lacerda e foi inaugurada em 1929. Depois, Lindnalva me deixou no Paraíso Tropical. Este restaurante entrou na minha lista pessoal de melhores do Brasil. Além da comida ser fantástica, Beto, seu proprietário, é uma figuraça. O som que se escuta no restaurante é ou galos cacarejando (atleticanos iam gostar de verem tanto mascotes juntos) ou a risada de Beto. Explico: Beto cria galos de briga para serem usados em rinhas numa área anexa ao local. Das mesas é possível avistá-los dentro de gaiolas. Já a comida estava divina. Beto é agrônomo e um apaixonado por frutas. São estas que temperam os pratos. Uma tem a acidez necessária para algo, a outra a doçura, uma terceira dá a cremosidade, e assim por diante. Genial. No final da refeição, Beto fez um tour comigo pelos 62.000 m2 de seu pomar. Provei frutas do pé e histórias de como parte das mais de 6.000 arvores foram plantadas: “esta aqui é uma raridade. Sua semente foi trazida pelo embaixador da Tailândia”. Saboreei frutas que jamais havia ouvido falar. Adorei a experiência vivida no Paraíso Tropical (o ponto alto da viagem até agora), assim como a veracidade e a alma do lugar.

Beto Pimentel e seu restaurante Paraíso Tropical

À noite, li as “Políticas e Normas de Hospedagem” do hotel (um desses papéis que ficam dentro de uma pasta junto do cardápio do serviço de quarto). Fiquei encucado com uma das regras: “Com o intuito de uma maior privacidade e segurança só poderão ter acesso aos apartamentos hóspedes cadastrados no check-in, e visitantes autorizados pelos mesmos na condição de tarifa de R$ 70,00 por pessoa (exceto período de carnaval, o qual não é permitido acesso de visitantes em nenhuma condição)”.

Depois do café da manhã de tapioca, fui com a Lindnalva para cobrir a área norte da cidade. Ela fez um preço camarada para cinco horas de trabalho. Começamos com o Acarajé da Cira, o mais famoso da cidade, em Itapoã. Lá, além do acarajé, provei abará (o acarajé cozido no vapor envolto de folha de bananeira, ao invés de frito no dendê), bolinho de estudante, cocada, e doce de tamarindo.


Cira e seu famoso acarajé

Tirei foto do Farol de Itapuã e da estatua do Vinícius que fica numa praça nas redondezas. Seguimos então até a Barraca do Lôro. Fiquei embasbacado com o local. O chão de areia era coberto com grama japonesa, havia espreguiçadeiras com esteira de palha e almofadas, chuveiro, e ombrelones. Um lugar bem aconchegante diante a Praia do Flamengo. Pedi uma roska (o nome de caipirosca por aqui) de caju e uma porção de lambretas (uma espécie de vôngole gigante) ao vinho e cebola.


Farol de Itapuã



Barraca do Lôro e lambreta


Segui para o Forte São Marcelo, de onde tirei boas fotos panorâmicas de Salvador. Em seguida, fui ao Mercado Modelo (decepcionante caso você não tenha interesse em artesanato), subi o Elevador Lacerda, fui ao Museu da Gastronomia (mais uma decepção), e terminei o dia bebendo infusões de cachaça (recomendo o cravinho, feito com cravo, limão, e mel) com porção de Moela no O Cravinho.



O colorido do Pelourinho

Cravinho

No terceiro dia de viagem, um domingo, fui ao Grande Sertão conhecer um café da manhã nordestino. Para minha surpresa, às nove da manhã, vi um mundo de gente se servindo de um bufê farto de comidas interioranas. Havia bode ensopado, rabada, carne de sol desfiada com farinha, batata doce frita, mandioca cozida, e outras coisas estranhas para serem comidas de manhã. Fiquei apenas nas frutas e nas tapiocas.

Grande Sertão


À tarde, mais uma decepção, a moqueca do Yemanjá. Apesar de ser considerada por revistas e guias como a melhor da cidade, não vi nada de extraordinário.


Restaurante Yemanjá

Ah, depois de tanta comilança, me senti na obrigação de fazer uma caminhada em ritmo forte durante uma hora.

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